O 712 [outra vez]

Apanhei o 712. Há algum movimento nas ruas mas que não impede a fluidez do percurso. Passei por locais familiares: onde gostava e ainda gosto de passear, onde morei há uns anos, onde tomava o pequeno almoço e outras coisas que tenho pouca vontade em recordar.
Uma voz dentro de mim dizia-me que, se eu quero ver a verdade, tenho de me desapegar de tudo o que eu acho ser real. Ver os outros não pelo que aparentam. Ver estas ruas não pelo que parecem. Ver-me a mim mesma não pelo que imagino. 
Tudo me parece ilusório, até mesmo aquele momento em que estou sentada e observo o mundo pela janela do autocarro. É uma sensação estranha. Quiçá um sinal de loucura.
Lembrei-me da Verónica, que já partiu. Ela disse-me, uma vez, que costumava almoçar naquele mesmo café onde eu gostava de tomar o pequeno almoço.
O tempo passa. A vida é fugaz e deixa tantas vezes um sabor amargo.
É estranho não é, pensar que o que é deixa um dia de ser mas se há algo que nunca deixa de ser é porque aquilo que somos realmente nunca poderá ser algo que um dia deixemos de ser?
Ela vem-me à memória várias vezes ainda que eu deseje do fundo da minha alma que ela esteja bem e não perca muito tempo com os vivos.
Apesar da estranheza dos meus pensamentos e das minhas palavras, preciso de continuar a registá-los.
Posso parecer louca aos demais, mas para mim, apenas a escrita me impede de perder a "visão".

Tirei esta foto hoje. Fascina-me o pormenor das estátuas na entrada do Museu Militar, ainda que desconheça por completo qual o seu simbolismo.




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