Por que sou assim?
Hoje não consigo olhar para ela, esta ela que sou eu mesma a observar-me. Fiz as pazes com a minha pequenina mas há tantas versões minhas póstumas que eu ainda não consigo aceitar. Tento mas é tão difícil.
Alguém, por quem eu tenho imenso carinho, lembrou-me hoje de um comportamento parvo que tive há alguns anos. Sei que era uma partilha inocente mas foi tão difícil lembrar-me de que já fui assim, tão limitada, tão fraca, tão destrambelhada, tão ridícula, tão patética. Este é o problema: mesmo que não me vejam assim, eu vejo-me assim constantemente. E há certas lembranças que me envergonham tanto. Sim, naquele momento eu tive vergonha de mim. Falei abertamente quando questionada, desvalorizei, mas senti vergonha. Fui logo buscar as outras lembranças. Quis sentir dor. Sou masoquista. E ainda que não o faça sentindo a lâmina a trespassar a carne, deixo que os meus fantasmas me inquietem a mente. É um castigo auto-infligido, uma espécie de punição pelas minhas falhas que, de acordo com os meus próprios critérios, são imperdoáveis.
Atrás disto vêm todas as outras emoções.
Céus, dói-me a cabeça! Não quero chorar. Não quero chorar no meio do comboio. Não quero chorar na solidão do meu quarto. Não quero chorar na cadeira do consultório da minha terapeuta.
Só quero ser curada, mesmo que a remendos. Cirurgicamente restaurada.
Porque tenho de andar sempre em luta comigo mesma? Porque pareço recuar sempre que dou passos? Por que nasci assim? Por que me tornei assim? Por que sou assim?
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