Tubarão
Mergulhei fundo esta noite. Lembranças camufladas foram sussurradas ao meu ouvido enquanto me deixava cair no inconsciente.
O Dragão de Água, pousado
no meu altar, antecipava a intensidade do que viriam a ser os meus sonhos.
Vi-me a caminhar numa
praia, acompanhada por uma mulher, as duas vestidas com túnicas pretas. O mar
estava revolto. O vento era forte, fazendo sacudir a areia. A dado momento
disse-lhe: “Temos de nos ir embora, a maré vai subir depressa.” Tentámos apressar
o passo, mas o vento e a subida rápida das águas tornavam difícil a nossa
caminhada. Em pouco tempo, a água já nos dava pelo pescoço. Tínhamos sido
apanhadas pelas águas. Nada mais restava a fazer que não fosse mergulhar.
Tudo ficou escuro. No
mundo subaquático viam-se destroços sem relevância. Apenas umas aparentes
lamparinas - que apesar de se encontrarem em água ainda não tinham perdido a
sua luz – me chamavam à atenção.
Até que o vi. Grande, majestoso, a vir do fundo do mar com
uma boca enorme. Sabia intuitivamente que não podia fugir!
Como se estivesse envolta nas águas maternas, encolhi-me em posição fetal e
entreguei-me ao tubarão, sem medo, enquanto ele me abocanhava.
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