Quando doía...

Quando doía ensinaram-na a observar. E a menina-criança colocava-se à janela daquele primeiro andar e via o sol a nascer a Este trazendo diariamente possibilidades novas. E ainda que os dias parecessem iguais, a alma que habitava aquele corpo ia crescendo sem pedir licença porque obedecia a leis que não pertenciam a este mundo. E quando a noite chegava, adormecia ao som dos uivos dos cães da vizinha do rés-do-chão e dos escassos carros que a poucos metros atravessavam a estrada principal da cidade.

Quando doía ensinaram-na a ouvir. E quando os gritos interiores cessavam, um outro tipo de som tornava-se audível. O vento trazia mensagens lá do alto das montanhas, onde dizem que moram os mestres. E aquilo que encontrava caminho até à sua alma saía em forma de palavra pela boca.

Quando doía ensinaram-na a esperar porque o seu tempo viria no tempo certo.

Quando doía ensinaram-na a ter fé.

E um dia o que doía passou a doer menos.

Observava os seus pensamentos sem julgamento, ouvia o bater do seu coração sem julgamentos, aceitava o seu ritmo interno e o ritmo da vida sem julgamentos e acreditava.

Agora quando dói ela sorri porque sabe que também aquela dor faz parte e sem ela não teria chegado onde chegou, nem seria a pessoa na qual se tornou.




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