Férias Grandes

Uma das melhores lembranças que tenho de infância é das viagens de carro pela Europa que fazia com os meus pais e irmã nas férias grandes. Sei que na altura não valorizei. Eram viagens cansativas. Dormíamos no carro na ida e volta e acordávamos completamente partidos. Às vezes perguntava-me porque não eramos uma família normal, daquelas que abanca na praia a estorricar ao sol o dia todo.

Os meus pais têm, claramente, bicho carpinteiro e eu, para o bem ou para o mal, recebi também essa herança.

Lembro-me da primeira viagem grande a Paris, em 1996.

Lembro-me de estarmos sentados frente ao hotel à espera que ele abrisse, completamente exaustos.

Lembro-me de estar no banco de trás a olhar para o rosto do meu pai que intimamente esperava que tudo corresse bem. Lembro-me de a minha mãe olhar para ele com a mesma expectativa.

Em 1996 os meus pais tinham praticamente a idade que eu tenho hoje.

Ao recordar-me disto sinto por eles a maior gratidão do mundo. E talvez pareça estranho trazer este assunto considerando o conteúdo dos meus posts anteriores. Mas efetivamente, foi nisto que vim a pensar quando apanhei o autocarro vazio de manhã e, talvez por haver muito menos ruído e confusão, certas memórias tenham encontrado uma forma de furar e chegar à superfície.

Ando aos solavancos. Fala-se diariamente na possibilidade de estado de emergência e quarentena em Portugal. A ideia de estar confinada é claustrofóbica.

Atualmente não seria possível fazer uma daquelas viagens. Que outra coisa se pode sentir, neste momento, que não seja falta de ar? Não é só o vírus que pode afetar a respiração. O confinamento também o faz.

Certas coisas são tão desvalorizadas até ao dia em que, por circunstâncias adversas, descobrimos o seu real valor.

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