A descer
O fim de semana foi difícil, apesar de estarem dias agradáveis que convidam a um passeio, apesar de não haverem desafios exteriores que pronunciem um descalabro. Mas foi difícil porque senti. Senti a tristeza, o vazio, o penoso que é carregar dentro do peito situações mal resolvidas e a ausência de sonhos.
Tenho alguma resistência em falar disto porque idealmente gosto de projetar uma imagem de força e de serenidade que, a bem da verdade, existe mas efetivamente não é nem consigo que seja constante.
Sou levada ao passado, a palavras que me magoaram, a circunstâncias que me fizeram fechar o coração em vez de o abrir e percebo que continuo refém de quem as proferiu. Não pretendo culpabilizar ninguém pelo que escolho carregar. Aqueles que passaram pela minha vida foram meus professores e mestres e, não fosse pela ação deles, talvez nunca me tivesse dado conta dos bloqueios que insistem em minar a minha alma.
Sim, foi um fim de semana difícil! Chorei o que não quis chorar antes e avivei o que tenho insistido para esquecer. Senti-me incrivelmente sozinha e, ao mesmo tempo, completamente incapaz de estar com outras pessoas. Coloquei em causa a minha fé e as minhas certezas. Caminhei por Lisboa na esperança de que o cansaço físico me distraísse desses reveses. Regressada a casa, guardei os livros que em tempos vi como bíblias, deixei de seguir as palavras que em tempos validei, guardei as cartas [de Tarot], retirei-me das redes sociais. Fechei a porta aos ensinamentos que desde há uns anos que tenho vindo a engolir sofregamente.
Relembro as palavras de José Régio que hoje sintetizam tanto o que sinto: "Não sei por onde vou, Não sei para onde vou, Sei que não vou por aí."
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