Retorno
Vim passar uns dias de férias. O voltar à família faz-me crer que há coisas que não mudam. Por um lado, agradeço pelo que tenho. Por outro, acabo por encontrar sempre a minha menina interior, e isso não é fácil. Está nela o meu passado, o meu Eu que queria crescer rápido de mais, mas que encontrou um processo moroso.
Cronos é implacável. Há que aceitar com a mesma maturidade que ele próprio exige.
O seu frio estrutura o meu ser interior e, se bem que o calor da estação em que a minha alma escolheu nascer tente entrar, encontra frequentemente barrada o seu trajecto.
A vida puxa-me de sul para norte e eu bem tento ir, mas quase sempre com pouca vontade.
Nos últimos meses, e em diversas circunstâncias, vi espelhadas partes de mim que tive dificuldade em reconhecer. Sou isto mas quiçá preferisse ser aquilo, não sendo propriamente claro o que é "isto" e o que é "aquilo" e qual a diferença entre ambos.
É o meu eterno retorno a uma velha questão de querer definir e assumir uma identidade genuína mas que não contemple o que eu não quero que essa identidade seja.
Percebem a contradição? O conflito interno?
Acho que é por isso que vou tantas vezes para o meu eremitario. Há momentos em que preciso tanto de me aceitar que corro para onde quer que não haja necessidade de validação pelo simples facto de que não há lá ninguém para validar.
É o tratamento de choque, é a consciência à força, é o mergulhar de cabeça porque todos os esforços já se frustraram. Mas é também a fuga de quem busca a solidão porque não sabe lidar com a companhia, de quem racionaliza porque tem medo de sentir, de quem finge porque receia ser.
O veado assoma à porta, paciente como só ele sabe ser. Vai e vem para ver se eu já o aceito.
Num outro plano seria tão fácil mas é tão penoso fazê-lo na matéria, tirar as armaduras e mostrar vulnerabilidade.
Um dia...
Um dia...
Um dia...
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