Dia 21

Vou contar-vos uma história.
Imaginem uma criança que, por circunstâncias da sua vida, cresce a achar que quanto mais der de si mais receberá. Imaginem uma criança que deseja tanto o amor e a aceitação dos outros que veste a imagem da "boa menina".
Quando cresce, esta "boa menina" mantém esse padrão, não só dirigido aos familiares mais próximos, mas também aos primeiros amores.
A disponibilidade, amabilidade, gentileza, compreensão, parecem-lhe ser o que tem de existir em si mesma para que os outros a vejam.
Até que um dia a vida confronta-a com outra possibilidade. Aqueles que usam uma máscara quase oposta à sua vão conseguindo aquilo que ela sempre desejou ter mas que nunca conseguiu, apesar de usar a máscara que ela considerava ser a certa para almejar conquistar os seus intentos.
Nesse dia, ela recolhe-se, retira a máscara gasta pelo tempo, segura-a entre as suas mãos, enquanto uma lágrima lhe escorre pelo rosto.
O coração dói-lhe. Decide colocar uma nova. Compra uns novos elásticos, prende-a bem atrás das orelhas e sai para a rua esperançosa.
A anterior simpatia é substituída por palavras rudes. Quando a esperam à direita na estrada, porque sempre assim foi, ela começa a virar à esquerda. Quando a começam a confrontar, ela range os dentes em fúria.
Por fim, questionam-na:
- Onde está a rapariga que conheci?
Ela responde encolerizada:
- Estou aqui. Grita:
- ESTOU AQUI.
Olham-na de soslaio e duvidam da veracidade das suas palavras.
A alma dói-lhe enquanto vai testando máscaras atrás de máscaras. Os outros vão-se afastando.  Num derradeiro momento, coloca pela primeira vez a pergunta:
-Quem sou eu?
Não parece ser o que se tornou. Mas também não é o que era.
Em que momento da sua vida conseguiu aquela rapariga ser e agir genuinamente de acordo com a sua essência?
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Este é um dos desafios do Pendurado. Sacrificar o que não somos em busca da nossa autenticidade. Aquele que se ama não precisa de artimanhas para conquistar o amor dos outros. Aquele que se aceita não precisa de malabarismos para ter a aprovação dos outros.

Este foi o meu trabalho de reflexão de 21 dias. Termina hoje, em dia de eclipse solar e lua nova em Sagitário.

Estou emocionalmente cansada mas mantenho a fé de que esteja no caminho certo apesar das imensas dúvidas.

Neste novo ciclo de 21 dias irei afastar-me. Quando mais dentro, mais fora. Antes de ir para fora, tenho de ir para dentro.



 

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