Braço de Prata, Natal e outros desabafos

O Natal aproxima-se mas não estou com qualquer espírito da época. Não me maravilho com as ruas iluminadas, não me comovo com as músicas natalícias. Cansa-me o barulho, os supermercados cheios, o consumismo exacerbado. Vejo mais beleza na chuva que cai do que em tudo o resto que se passa diante dos meus olhos.
Eu não sou daqui. Digo-o sem qualquer sentido esotérico. Sinto-me uma estranha, uma viajante de fora que já não se esforça minimamente por encaixar no espaço onde veio calhar.
No Domingo fui caminhar por Braço de Prata. Por momentos, não vi ninguém. Parei num cruzamento e perante a ausência de gente, fechei os olhos e ouvi apenas o vento que soprava. Não sinto que esses momentos sejam, necessariamente, os melhores da minha vida, mas parecem-me os únicos momentos reais.
Se pararmos para pensar, a nossa jornada de alma aqui é quase sempre solitária. Os nossos demónios são os únicos que teimam em não nos largar. Tudo o resto vai e vem, como nós também fluímos no tempo até ao dia em que seremos apenas uma lembrança. Ou nem isso.
Estamos, enquanto coletivo, a viver um período de mudanças profundas. Não entendo o conceito de "novo normal" e muito menos o que definem como normal. Para mim, nada disto é normal. Levar a vida como somos incutidos pela sociedade não é normal. Priorizar a razão a tal ponto que se apague a intuição não é normal. Vivermos na carne e esquecermos o espírito não é normal. Ou antes, o facto de ser o que frequentemente fazemos não faz disso algo correto.
Talvez isto explique a minha apatia para as festas de fim de ano. Ou talvez não. Sei apenas que quanto mais avançamos mais eu me retiro. E não sinto qualquer motivação em fazer o inverso.




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