Vista de outra forma
Ontem tirei um dia de férias. Nada correu como tinha planeado. Acabei por ficar por casa, entre limpezas, vídeos de filosofia e sestas acompanhadas pelas gatas.
Foi um dia perfeito apesar de, aparentemente, parecer pouco produtivo. A minha melhor amiga comentava comigo: "há quem goste de ir às compras, tu preferes alimentar a alma."
Parece-me que sim!
Tenho de assumir, se não a todos, pelo menos a mim mesma, de que estava ansiosa e talvez por isso tenha procurado palavras que obrigassem o meu cérebro a transmitir outro tipo de informação ao resto do corpo.
Os meus medos mais antigos permanecem. Medo da perda, medo da ausência, medo do próprio medo. Apesar de me ter tornando numa pessoa bastante autónoma, de ter trabalhado o tal desapego emocional, ainda resistem pontas soltas, imensas pontas soltas a moerem-me os calcanhares.
Hoje, a caminho de Lisboa, fui transportada para a minha primeira vinda prolongada à capital.
Há 21 anos comecei os meus estudos universitários e mudei-me para um quartinho na Avenida de Roma.
Os primeiros seis meses foram dolorosos porque me sentia tão afastada de casa. Os restantes quatro anos seriam de crise.
A Lídia daquele tempo não viveu um período fácil. Ao recordá-la apetecia-me apertá-la nos meus braços e dizer-lhe que tudo iria ficar bem. Na altura, desconhecia imensa coisa, incluindo o porquê de eu ser como sou.
Há um entendimento na Lídia atual, mas todas as Lídias do passado residem dentro de mim. Há consciência na Lídia atual, mas a lembrança das Lídias do passado reside dentro de mim.
E há dores que a Lídia atual ainda sente tal como as Lídias do passado.
Quando me olho ao espelho percebo que os meus olhos são os mesmos, o portal para o meu interior é o mesmo. Há algo de imutável que atravessa o tempo. Desejo ardentemente consciencializar-me que essa imutabilidade é a verdade de quem sou e não o medo, nem as minhas fraquezas.
Digo isso às minhas meninas internas enquanto elas choram no meu ombro. Afago os seus cabelos encaracolados dos quais aprendi a gostar e segredo-lhes ao coração: "Caminhamos juntas, somos suficientes, somos capazes."
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