Viagens paralelas [Lua nova em Virgem]
Caminhei...
Comecei a marcha a partir da casinha de madeira com a lareira acesa e as cores
das labaredas a vibrarem.
Os pés descalços percorrem a estrada desenhada a preto e branco. No tornozelo
esquerdo as flores de metal presas à pulseira dançam ao sabor do movimento dos
pés.
Chegada à piscina, sou desafiada a mergulhar. Ele espera-me no fundo
revelando-me uma caixa entreaberta onde jaz um colar de pérolas.
Com
o impulso da vontade (quiçá raiva!) rebento as estruturas de mármore e a água
transborda tornando-se a piscina num lago. Sigo para a direita.
Vejo-me,
eu mesma fora de mim. Outro eu que sou eu.
Meia mulher meio tubarão. Meia mulher meio veado.
Somos tri, somos uma. Os meus outros "eus" circulam-me. Não os posso
negar, somos indissociáveis.
Tenho de aceitar a luz. Tenho de aceitar a sombra. Tenho de equilibrar a
polaridade.
Recolho ao meu leito. Preparo-me para dormir. A lua nova em virgem ocorre à 1h52. Vejo-o com outra. Abandona-me, rejeita-me, nega-me, exclui-me. Quando chega a minha hora de falar já não tenho audiência. Custa-me a solidão na qual me deixa.
Acordo num estado intermédio.
Consciencializo-me de que não tenho posse de nada. O dinheiro é uma dádiva da
vida. O dinheiro não é meu. A vida dá o que quer e quando quer e tira o que
quer e quando quer.
Suplico: "Se consigo
entender a efemeridade do material, faz-me também consciente de como resolver a
dor do meu coração."
Acordo de manhã com a chuva a bater nos estores e regresso ao mundo real. Sei que...
... Não posso fugir de quem sou.
... Não posso fugir da verdade.
... Não posso saltar etapas, nem ignorar provas necessárias ao meu
crescimento.
O suburbano traz-me de volta a uma rotina que já nada me diz. Viajo em silêncio envolvida nos meus pensamentos. Anseio pela hora de regresso ao meu casulo.
As imagens constantes deste post foram retiradas da web e podem conter direitos de autor. Procurei imagens que se aproximassem do que vislumbrei.
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