O eterno retorno

Voltei às caminhadas, mas não exatamente da mesma forma. 
O caminho é o mesmo. Atravesso o Jardim da Estrela, desço pela Calçada da Estrela, passo junto à Assembleia da República, continuando pela Rua de S. Bento.
Atravesso a Rua dos Mastros e viro à esquerda. Os meus pés seguem rumo pelo Largo Conde-Barão, Rua da Boavista, Rua de S. Paulo, Rua do Corpo Santo, Largo do Corpo Santo, Rua do Arsenal até chegar à Praça do Comércio.
Para quem me leia talvez isto não tenha importância nenhuma, mas para mim tem e muita. As caminhadas que faço por Lisboa estão ligadas à minha alma e em cada passo na matéria, sinto que também a minha alma caminha.
Há coisas que não consigo explicar por palavras e esta é uma delas.
Regresso aos mesmos locais porque reencontro em cada canto memórias de Lídias do passado. Consigo ter presente a roupa que vestia, o que sentia, o que me vinha à mente, onde entrei, onde saí, se chovia ou se fazia sol. Lembro-me da Lídia que, naquele instante que hoje é passado tinha uma dúvida que já foi respondida, ou tinha uma fraqueza que já foi superada. E também reencontro a Lídia menina que em 2016 estava ainda a descobrir e a enamorar-se pela cidade. 5 anos passaram. E se 5 anos parecem pouco, já mal me reconheço nessa lembrança.

Deixo, para memória futura, três momentos:


2016 - Das minhas primeiras caminhadas. Na altura ainda morava na Bernardo Lima e encontrava-me na fase "tentativa vegan" dos Legumes à Brás. Não foi certamente das minhas melhores experiências. Faltava-me ainda o gosto pela foto artística e, a bem da verdade, faltavam-me muitas outras coisas.











2019 - O mesmo percurso desta semana. Era Janeiro, tempo frio, chuvoso e escuro. Foi nessa altura que comecei o meu registo em postais que fui adquirindo ao longo do ano. 52 num total. Lembro-me do desafio emocional, da revolta que rompia as entranhas. Foi o início da descida, de onde estou a regressar agora lentamente.

Caminhadas à chuva (8alaya.blogspot.com) 


29.09.2021: Ontem. O regresso com a pontinha de sol a espreitar por entre as árvores. Já não é o calor de um tempo, nem o frio de outro. Já não é só a luz nem apenas a escuridão. Já não sou apenas uma em detrimento de outra, mas sou todas, todas as possibilidades, todo o crescimento, toda a aprendizagem.












Ao escrever isto apercebi-me que tenho caminhado em busca da verdade sobre mim mesma. Descobrir-me tem sido a maior aventura desta minha existência terrestre e, sem dúvida, a mais importante.

Para quem me lê ou me venha a ler, caso se cruzem com estas palavras e vos faça sentido, desafio-vos a caminharem. Deixem que os vossos pés vos levem vezes e vezes e vezes, mesmo que haja momentos de dor e dificuldade. E se for para se perderem, pois bem, percam-se! É quando nos perdemos que nos encontramos ao deixarmos que seja a nossa alma a conduzir-nos pelo caminho da Verdade. Nesse caminho VEMO-NOS. Não duvidem disto! Vemo-nos realmente, o ser que mora dentro e que busca a unidade. O ser que sabe que faz parte de um todo. O ser que reconhece estar apenas de passagem e aproveita as vistas como um estrangeiro que a seu tempo regressará à pátria mãe. E acreditem que essa consciência cura tudo porque não há maior dor do que a daquele que não sabe quem é.

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