Reflexões em dia de greve
Esta quarta-feira começou com greve da CP. Vim de carro, para Lisboa, ainda antes do sol nascer. Vim na companhia dos meus pensamentos. Analisei a minha vida que me parece tão plena de algumas coisas e tão desprovida de outras. Tenho-me apercebido de que as minhas compulsões estão a agravar-se uma vez mais. Conheço-me o suficiente para reconhecer os sinais ainda que nem sempre saiba o que despoleta as minhas crises.
Já em Lisboa, ao passar a ponte que atravessa o Parque Urbano do Vale Marvila, fitei por uns instantes a lua lá no alto, ainda plena, ainda luminosa, ainda bonita.
Digo para mim mesma que tenho a vida que preciso de ter mas parece-me que, de todos os primos Mal***q*e e de todos os primos P***s, eu sou a que destoa mais. Nem sempre estou bem com isso. Nem sempre aceito o caminho que me está reservado. Já me retirei de um qualquer papel de pedestal em que me coloquei e que me fazia crer que eu vinha para curar a linhagem familiar. Tretas! Não venho curar ninguém a não ser eu mesma. Não há um destino magalómano, apenas uma existência de valor igual a todas as outras existências.
Entendido isto, encaixada esta ideia, regresso ao caminho.
Escrevo numa sala vazia de gente. Só se ouve o barulho do ar condicionado e das teclas onde os meus dedos tocam. Olho para a lista de coisas a fazer: pagamentos, relatórios, registos, faturas. Há uma Lídia do trabalho muito diferente da Lídia fora do trabalho. Mas as duas rotinas entrelaçam-se e afinal parece que não sou mais uma do que outra.
Escrevo de uma sala vazia de gente e conforta-me, talvez demasiadamente, a solidão.
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