Deixei-me estar a caminhar!
Precisei de caminhar, caminhar. O dia de trabalho foi difícil, mais pelo meu estado de espírito do que propriamente pelas tarefas que tive de desempenhar.
Não me apeteceu ir à aula. Não me apetece estar com pessoas. Não me apetece dialogar. Não me apetece que me perguntem se estou bem e não me apetece responder que é só cansaço.
Sei que nestas alturas do mês sou desafiada. Não luto contra. Acolho aquele lado sombra, deixo que ele ruja como um leão ou solte um uivo dolorido como um animal ferido.
Não luto contra, mas caminho porque sem a caminhada, sem o esforço que coloco nos meus pés, nas minhas pernas, sinto-me a sufocar. E nesse caminho, com a noite instalada porque o Outono traz mais cedo o negro dos dias, deixo-me sentir. Estes são realmente os poucos momentos em que acredito piamente estar a captar algo que vai para além do meu entendimento. Não é magia, nem fantasia, nem mediunidade, nem intuição. É um estado de ser e de se estar, estar mesmo naquele momento presente. E oiço... As pessoas que falam por detrás das janelas entreabertas. E cheiro... os cheiros da comida a ser preparada para o jantar. E vejo... Os prédios velhos, os degraus de betão gastos, os baloiços com a cor comida pelo sol, a iluminação dos candeeiros que revela e esconde.
E no regresso a casa, e enquanto escrevo isto, peço à vida para não perder aquilo que eu senti enquanto fazia esta caminhada.
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