Dia do mês

Regresso àqueles momentos mensais. Há um torpor mental. Deixo-me estar recostada no sofá, com uma manta sobre as pernas. Abandono-me à leitura. Desde há uns dias que ando a ler o "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago. É um livro fantástico e perturbador ao mesmo tempo. Tivesse eu o lido antes do tempo da Covid19 e talvez não tivesse em mim o efeito que tem hoje. 
A sociedade pouco ou nada evoluiu. Ouvi hoje quem se questionava como é possível haver tanta maldade no mundo. Para mim é relativamente claro. A maioria dos seres humanos ainda vibra mais no mal do que no bem. Somos cruéis uns com os outros. Agarramo-nos às nossas certezas como se se revestissem de uma autoridade inquestionável. Auto-intitulamo-nos de pessoas inteligentes, informadas e altruístas. Realmente, as palavras pouco ou nada acompanham os atos. É pena! Se fossemos realmente aquilo que pregamos ser, o mundo seria bem melhor.
A minha mente pensa nestas coisas por breves instantes, mas tenta não se deter em demasia. Há pesos que não desejo carregar. Talvez por discernimento ou, quiçá, por falta de coragem.
É realmente estranha a sensação que me acompanha nestas alturas do mês. O meu cérebro começa lentamente a sentir-se embriagado. Vêm-me sensações estranhas, pensamentos intermitentes. Fecho os olhos. Vejo-me num chão frio, no centro de uma mandala em mosaico, de cores branca, azul e preta. Tenho os braços afastados, as pernas juntas num ângulo de 90.º graus e o ventre para baixo. Visto uma túnica preta.
Sim, é isto que vejo quando fecho os olhos do corpo e abro os olhos da alma, quando mergulho nesse vai e vem das minhas águas internas de cor vermelha como o sangue. Porque efetivamente é de sangue que se trata!





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