Dia 16

Está frio, muito frio. O frio sente-se na pele e na alma. Mas a pele pode ser tapada, coberta. Já com a alma são outros quinhentos. Os meus sonhos desta noite levaram-me novamente para onde não quero ir. Quando acordo, resta o vazio. Gostaria de retirar partes do meu coração, mas não é possível. E ainda que me custe admitir perante o mundo o que sinto, não posso não admiti-lo perante mim mesma.
Já alguma vez aconteceu quererem tanto algo de que fogem ao mesmo tempo, só pelo desconforto emocional que sentem?
Convenhamos que na prática eu não fugi. Apenas aceitei a ausência como um mal menor. E de facto é um mal menor. Talvez por esse mesmo motivo a solidão me seja tão confortável e tão cómoda.
Hoje, a caminho de Lisboa, refleti na minha própria contradição.
Quis tanto que me vissem, mas ao mesmo tempo não quis e não quero ser vista. Quero mostrar o melhor, ocultando o pior e às poucas pessoas que mostrei o pior quis que se agarrassem apenas ao meu melhor. 
Desejei ser o suficiente, mais do que o suficiente, mas nem eu me consegui convencer de que o era.
Neste tempo tudo vem ao de cima. A águas galgam as margens, nas paredes surgem fendas e o que me esforço tanto por colocar debaixo do tapete, vem-me no inconsciente para me lembrar de que não há fuga possível.





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