Tambor
Contrariamente à semana passada, domingo começou nebuloso e tem-se prolongado pela 2ª feira adentro.
É o tempo dos mistérios, da natureza em suspiro.
Ontem passei perto de Pedrógão para levantar uma encomenda muito especial, o meu tambor. O processo em si não foi assim tão especial ou pelo menos não correspondeu ao que tinha imaginado. Como tudo na vida, as coisas vêm na altura e moldes certos, apesar de todas as ilusões que possamos criar.
Gostei de conhecer pessoalmente o João, o artesão que lhe deu vida. Quando falei com ele percebi que a sua energia era muito diferente do comum. É uma alma que vive em comunhão com a natureza, o que contrasta imenso com a confusão caótica da capital.
Perguntou-me que fazia eu da vida. Falei-lhe da minha profissão salientado firmemente que sei que a minha alma deseja algo bem diferente.
Sorriu então e enquanto apertava as cordas para puxar a pele do tambor disse-me: "sabes, é uma escolha tua!"
Respondi afirmativamente como quem sabe bem que a evidência é tão forte que não há como negá-la.
"Às vezes" - continuou ele - "é preciso um acto de fé."
Trouxe comigo as suas palavras. Já há muito que me debato com as minhas falsas seguranças. E à medida que aprendo a ouvir-me é mais difícil calar a certeza interior de que o procuro já não passa pelos mesmos espaços físicos.
Entretanto, regressei a casa com novos sons e novas vibrações. A sonoridade é fantástica. O toque na pele do tambor sente-se na nossa própria epiderme. É um novo caminho a desbravar, o do xamanismo. Mas feito de uma forma diferente quando comparado com a minha experiência de 7 anos no yoga.
Claramente já não é tanto um trabalho virado para o corpo, mas mais para a alma. Não que o yoga não pretenda trabalhar a alma, apenas acho que não consegui fazê-lo verdadeiramente. Durante o tempo que pratiquei usei mais o asana como fim do que como meio e partilhei em demasia o que era a imagem. Não quero cometer o meu erro.
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