Porto de Muge

Sou do Cartaxo. A minha bisavó morava numa terra próxima chamada Porto de Muge. A Ponte Rainha D. Amélia, sobre o rio tejo, liga à outra margem, à freguesia de Muge.

Quando eu e a minha irmã eramos pequenas, íamos às vezes ao mercado de Muge. Quatro gerações de mulheres atravessavam a ponte “nova” a pé – a minha bisavó, a minha avó, a minha mãe, eu e a minha irmã. Quando o comboio vinha, assobiando e sacudindo ferozmente, eramos protegidas pelos corpos das matriarcas durante toda a sua passagem. Recordo-me do som, da força do vento. A minha memória recuperou essa lembrança hoje em Vila Franca de Xira enquanto esperava o comboio.

Tem sido um trabalho árduo lidar com certos pedaços da minha infância. Sei que nas minhas origens poderei encontrar respostas para algumas das questões mais profundas que trago, mas isso requer um esforço de desconstrução para o qual eu ainda não me tenho sentido emocionalmente preparada.

No entanto, e porque nada acontece por acaso, os últimos tempos têm-me feito reviver o passado. Talvez tenha chegado o momento de cura. A cura traz libertação, mas também gratidão porque no fundo o desejo de seguir em frente ganhou forma primária num passado que, a seu modo, me ensinou, me educou, trouxe-me ao momento presente e pelo qual devo estar agradecida.

Sigo caminho, ainda muito ligada às terras ribatejanas. A lezíria encanta-me! Encontro uma tranquilidade que sempre lá esteve, mas que durante muito tempo, e por circunstâncias da vida, ignorei.

Quero estar em paz. Escolho estar em paz. Quero ser paz. Quero sentir essa paz.


(Imagem da Internet)




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