Excertos de sombras

Um dia um dos meus melhores amigos disse-me: "Vieste a este mundo para sentir!"
Abanei a cabeça em anuência ao mesmo tempo que a minha voz interior me segredava: "Pessoas como nós não sentem. Pessoas como nós andam de armadura na rua e não vertem lágrimas."
Sentir é mostrar vulnerabilidade, algo de que tenho fugido a minha vida toda.
Consigo estar presente fisicamente e ter deixado parte do meu coração em casa no cofre forte. É a parte que protejo do sentimento, da dor, da desilusão, da decepção. Dou-me às metades, aos bocados, partes que já se partiram, já foram coladas, remendadas. Dar-me por inteiro assusta-me e, a bem da verdade, não sei se sei como fazê-lo. Sou aprendiz nestes assuntos, aluna de pré-primária que, no entanto, já perdeu a ingenuidade de infância.
Pessoas como eu não sentem, - diz uma parte de mim. A outra rejeita. Sentem sim. Sentem demais, em excesso, sentem na alma, sentem na pele e é isso que assusta tanto. O excesso que transborda, que enche, que preenche cada canto vazio. O excesso que faz mudar, que incita à transformação, que tira uma alma da zona de conforta e atira-a para o desconhecido.
Sentem sim. E andam de armadura não para não chorarem, mas para esconderem as lágrimas.




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