Voltar à tona
Não sei
nadar. Nunca aprendi. Lembro-me de que, quando era menina e ia às piscinas,
talvez devido a esta minha limitação, gostava muito de me agarrar à borda da
piscina e, num impulso, tentava puxar o meu corpo para baixo até que os meus
pés tocassem no fundo. Deixava depois que a água me trouxesse de novo à
superfície, sem esforço. Não tinha de fazer nada, era só deixar-me ir. Sabia
tão bem essa leveza! Sentia-me tão livre! E repetia vezes sem conta naquela
alegria infantil e despreocupada.
Esta
semana apercebi-me de como a vida é semelhante a este movimento alternado. Há
aquela fase em que, pelas mais diversas circunstâncias da vida, vamos ao fundo.
E depois, também pelos mais diversos motivos, regressamos à superfície. Às
vezes mantemo-nos lá demoradamente e falta o ar. Mas há um momento, mais cedo
ou mais tarde, em que fazemos o caminho de regresso.
Na
piscina a transformação não é muita, mas na vida é. Entre um momento e
outro passa-se tudo e não se passa nada e aquele que fez o caminho de ida já não
é o mesmo que faz o caminho de volta.
Se
encararmos a transformação como necessária, percebemos que estar no fundo desta
"piscina" não é menos importante do que voltar à tona. O homem
renasce da sua própria ruína e é sobre ela que os seus pés ganham novo impulso
para subir.
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