Por ora, é isto.

Recorro imenso ao exercício físico, o que é curioso considerando que, nos meus tempos de adolescente e de início da idade adulta, simplesmente detestava tudo o que implicasse exercitar o corpo.
Lembro-me de ter virado para a "intelectualidade" (e aqui a intelectualidade tem mesmo de vir entre aspas) muito cedo, não necessariamente pelo desejo de saber e entender, mas porque me parecia mais fácil evidenciar-me pelo uso da cabeça do que pelo uso do resto do corpo. 
Não gostava do meu aspecto físico, considerava que não valia a pena investir na minha imagem e por isso foquei-me muito mais nas conquistas pela via académica. Consequentemente, e durante muito tempo, considerei e chamei de futilidade à atenção excessiva no corpo.
Demorei anos a perceber que o corpo é o nosso templo, a cápsula que alberga a nossa alma e também ele merece ser bem tratado e respeitado.

A descoberta do ashtanga, em 2012, foi o início deste percurso de redescoberta através do físico, do visível, do palpável. Do enraizar, do sentir os pés no caminho, do tocar, do sentir, inclusivamente as maleitas do corpo. O ashtanga trouxe-me, durante os 7 anos de prática - e já o referi várias vezes - aquilo que eu realmente precisava. Muito para além da força dos músculos e flexibilidade das articulações, deu-me flexibilidade mental que me ajudou a desconstruir a tal "intelectualidade" de que falei acima.  Intelectualidade que, no fundo, não era mais do que pensamento acrítico, falta de reflexão, conhecimento mecânico sem qualquer aplicabilidade na vida, os preconceitos mentais que repetia a mim mesma diariamente, ... Ou seja, queria evidenciar-me por uma via que, em si mesma, necessitava de uma profunda revisão.

Fez este ano 10 anos que abracei a cura através do corpo físico. Obviamente, quando comecei no yoga não tinha consciência alguma do que estava a curar, nem de que estava a curar alguma coisa. Queria apenas conseguir fazer aqueles asanas fantásticos que via nas fotos. Felizmente para o ser humano os processos inevitavelmente ocorrem, haja consciência ou falta dela.

É este o ponto alto da minha caminhada? Não.

Nestes mesmos 10 anos tenho vindo a descobrir algo sobre mim que me surpreendeu. Vivo muito obcecada pelas conquistas do corpo, pela rotina na prática como se as pausas significassem "fracassos" e apenas o trabalho constante significasse um "ganho". Tenho dificuldade em parar, em respeitar o meu cansaço, o meu desconforto, em gerir beneficamente o meu tempo sem imposições masoquistas.

Há um provérbio que diz "parar é morrer" e eu sinto muitas vezes que, se parar, já não conseguirei colocar a minha vida em marcha. O simples ato de estar parada num local em silêncio é difícil. Digo várias vezes que gosto do silêncio, e é verdade, mas vivo por norma este silêncio em movimento através das caminhadas. Não consigo limitar-me a estar num local.

Esta semana, porém, fui obrigada a parar. A TPM afeta-me demasiado, cria-me um cansaço e perda de energia extremos. Resolvi aceitar apesar das críticas constantes da minha mente.

A minha casa está desarrumada e vejo naquele caos muito do meu caos interior atual. Não me é totalmente desconfortável porque reconheço que é temporário e, muito possivelmente, amanhã entrará tudo nos eixos novamente. Mas olho para ela e vejo-me espelhada, nesta luta constante entre o que quero, o que acho que quero, o que preciso, o que acho que preciso, o que recuso ou não tenho a certeza se quero recusar.

Por ora não consigo ir muito além daquilo que eu sei que não sei, o que é muita coisa.
Por ora, é isto.



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