Dói-me
Dói-me a minha insuficiência. É irrelevante se ela existe ou não. É irrelevante se outros a veem ou não. Para mim é real, intrinsecamente real como um braço ou uma perna.
Acho que nunca aprendemos a viver com as nossas limitações. Aprendemos sim a disfarçar, a fazer de conta, a minorar dores. A nossa mente diz que sim e o coração segue arrastado, protegido pela razão que torna tudo muito mais suportável. E abanamos tanto a cabeça em aceitação que passamos a viver numa mentira a que chamamos de verdade.
Há bem pouco tempo, uma das minhas irmãs de caminhada disse-me para deixar cair a armadura e para me autorizar a sentir. A minha mente não quer isso. Ela é paternalista, uma espécie de irmão mais velho em constante controlo daquele elo fraco que bate no meu peito. Mas ao ouvir aquelas palavras, e ao ver o olhar doce e maternal com que ela me as dizia, perguntei-me até que ponto não teria razão e não terei eu andado a fazer-me mais mal do que bem?!
Tenho-me permitido, é certo, se bem que de um jeito verdadeiramente tosco. Ainda assim, quanto toca o limiar do meu pesar, recuo como se estivesse à beira de um precipício e fujo como uma menina assustada.
E por isso aqui estou eu a contar histórias, em vez de as viver. A lágrima no canto do olho anuncia vendavais emocionais. Desejo-os com toda a força. No dia em que for para sentir, quero sentir tudo.
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