Menstruação
Acho que nunca escrevi sobre este tema: menstruação. Até há bem pouco tempo, menstruar era para mim um carma das mulheres. Vinha-me sempre à memória a piada de que Deus resolveu castigar Eva por ter levado Adão a desobedecer. Perante o seu suplício, Deus decidiu que Eva, e todas as mulheres depois de Eva, deveriam pagar mensalmente com o seu sangue. É só uma piada certo?!!!
O tema da menstruação nunca foi explorado e muito raramente abordado durante o meu crescimento. Quando era adolescente, a minha avó fez-me uma vez um chá de cebola que supostamente ajudava a aliviar as cólicas. Não me recordo se funcionou. Aquela “porra” - que na altura não merecia ser chamada de outra coisa - doía. Uns dias antes, a “cabra” que há em mim gostava de aparecer e saudar o mundo. Depois disso, sentia uma fome enorme por tudo o que eram porcarias calóricas, mas maravilhosamente deliciosas. Depois passava. Voltava ao normal, ao que supostamente era o meu normal. Os meus extremos atingiam um nível de “bipolaridade” às vezes preocupante. LOL!
Durante o confinamento li imenso e porque nada é por acaso, das muitas coisas que li a grande maioria foi sobre as mulheres, o ser mulher e, inevitavelmente, a menstruação. Toda a minha forma de pensar sobre isto mudou radicalmente. Toda a minha forma de olhar para o meu próprio corpo mudou radicalmente. De repente o meu corpo era encarado como um gerador de vida, apesar de eu não ter filhos. De repente, percebi que essa “cabra” de quem falo tem tanto direito a existir e a manifestar-se como a minha versão mais soft e, por vezes, deveras aborrecida. Afinal se eu passo tantos dias do mês a tentar ser politicamente correta, se calhar também tenho direito a alguns dias por mês em que não o sou, porque não quero ou porque simplesmente não consigo. Essa “cabra” ríspida, mal-humorada e que parece odiar o mundo é afinal aquela que, ao intensificar tanto as emoções naquela altura do mês, traz a consciência para o que é que me está a incomodar verdadeiramente. Se estiver tudo bem, ela acalma-se. O problema é que, na grande maioria das vezes, não está tudo bem ou está tudo mais ou menos. Se me dói no corpo estou certa de que, algures na alma, a dor ainda será maior! O inverso também é real.
Deixá-la falar, é apaziguá-la. Deixá-la falar é para mim ouvir as minhas próprias verdades desconfortáveis. Deixá-la sangrar é permitir que o que está a mais, aquilo que já não encontra espaço dentro de mim, saia de vez.
P.S. Já encontrei esta imagem diversas vezes em partilhas e publicações. Desconheço a autoria, mas é uma imagem que por si só já diz muito.
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