Feiticeira

Talvez muitas de vós [e perdoem-me por me dirigir mais às mulheres] saibam o que é chegar à cama, deitar, o sono teima em não vir, e sentir um nó na garganta e um peso no coração por tudo aquilo que não foi dito, afirmado, manifestado, tirado do peito e posto cá para fora. Creio que seja a negação da nossa própria verdade, da nossa vontade, da nossa voz e do constante desvalorizar de situações de mágoa só para evitar o conflito, os principais responsáveis por grande parte dos bloqueios emocionais.
Há um velho provérbio que diz: "Quem cala consente!". Entendo-o mais do que nunca. Por tudo o que não é dito, vamos ficando com o que já não nos serve.

O meu desregulamento hormonal deixa-me inquieta e por norma é o período do mês que me traz um maior foco sobre estas questões. O desconforto emocional pode ser enorme, gigantesco, mas em nenhum outro momento consigo perceber com tanta clareza o que quero ou não quero para mim.
Ensinaram-me que este é o momento da feiticeira. Não da donzela inexperiente, não da mulher-mãe, não da sábia anciã. Não, esta mulher é a que diz o que tem para dizer. Esta mulher diz o que lhe vem das entranhas. Esta mulher não se esconde e não esconde. Esta mulher não se nega a si mesma. Esta mulher é aquela que grita: "HOJE NÃO. NÃO QUERO. NÃO ME APETECE. NÃO TENHO VONTADE. HOJE EU SOU EU."

Ontem ouvi essa mulher dentro de mim, a bater contra as paredes internas da minha alma. "Deixa-me sair! Deixa-me sair!" Espreitei-a como uma criança assustada e curiosa ao mesmo tempo. Ela sorriu-me. O seu tempo de clausura está a terminar. Quando encontramos esta mulher, não podemos mais ignorar a sua existência. Quando sabemos que esta mulher habita em nós, já não a [nos] podemos silenciar mais. Não podemos. E não queremos. 

Esta mulher diz-me que sou merecedora de amor e respeito. Esta mulher diz-me que sou merecedora do perdão independentemente dos meus erros. Esta mulher diz-me que não tenho de ficar onde não me sinto bem nem em relações, sejam elas quais forem, que nada me acrescentam. 

Esta mulher sou eu e esta mulher é cada uma das minhas irmãs.



(Imagem tirada da net)





Comentários

Mensagens populares deste blogue

The Chosen / Aprender com S. Pedro

Por que sou assim?

"Deus não precisa de ti", Esther Maria Magnis