Momento
Tenho pensado imenso na minha
vida, nas escolhas que fiz e onde elas me trouxeram. O pensar na vida não é
inédito, não é raro, mas as conclusões a que chego são diferentes.
As fases de mudança são
importantes. Têm a sua dose de dor, mas nada como a dor para nos fazer acordar.
Há 4 anos passei por uma
dessas fases. Bati no fundo, bem lá no fundo. Em pleno verão, fugia da luz do
sol e escondia-me no meu quarto com as janelas bem fechadas. Quando a tempestade
passou descobri, para meu grande espanto, que já não era a mesma.
Mudamos todos os dias um
pouco, mas aquelas verdadeiras transformações só acontecem de vez em quando.
Trazem-nos consciência e oportunidades para mudarmos. Mas mudarmos em quê?
Mudarmos o quê?
Demorei os 4 anos
seguintes a tentar entender e hoje parece-me mais claro.
Nós não mudamos por
mudar, mudamos para nos tornarmos naquilo que somos efetivamente e não o que
aparentamos ser. Se é para nos tornarmos no que somos, nem há mudança mas reconhecimento do que já existe.
Quem somos nós? Quem sou eu?
Quem somos nós? Quem sou eu?
Honestamente, não sei quem sou. Vou sabendo quem não sou por
exclusão. Vou refletindo sobre quem quero ser ou quem não quero ser por
afinidade com esta ideia em detrimento de outra. Apenas isso. E talvez por esse
mesmo motivo me seja tão difícil perceber em que é que consiste esta aparente mudança.
Acho que há um momento na
vida em que percebemos, do fundo da nossa alma, que não podemos continuar a ser
os mesmos, a agir da forma habitual, a seguir sempre o mesmo caminho, super
previsível, que conhecemos de cor e salteado e que desemboca sempre no mesmo
local. Há um momento em que já não há espaço para os nossos próprios lamentos e
não podemos continuar a ignorar que somos inteiramente responsáveis pelas opções
que fazemos na vida. Esse é o momento em que despimos a velha pele e seguimos
em frente nus; uma espécie de nudez emocional que traz ao de cima tudo o que passámos
uma vida inteira a tentar esconder.
Não sei bem se esse
momento é o momento de agora. Se há algo que aprendi é que isso não interessa.
O momento certo revela-se da mesma forma que o momento errado e será sempre
quando tiver de ser e, muito possivelmente, nunca quando quisermos.
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