É o conforto na cobardia quando deveria ter sido o desconforto na coragem.
A vida vai seguindo com relativa suavidade. Reconheço que, de certo modo, sou uma privilegiada. Neste ponto de privilégio tenho-me recusado a tomar consciência de dores que não são minhas.
Antes que se inicie o julgamento, passo a explicar. Alguma vez sentiram o vosso barco a navegar com tal tranquilidade que têm medo de tudo o que o possa perturbar? Verdade seja dita, tenho medo de cair, tenho medo dos vendavais. A dor do outro tem algo de muito penoso porque confronta-nos com as nossas próprias mazelas e fraquezas.
Ontem concluí que me tenha afastado das pessoas para evitar qualquer estímulo emocional. Não estou a defender uma forma de estar na vida, é apenas uma constatação. Perante as lágrimas que oiço, nem sempre sei o que fazer, o que dizer. Há algo em mim que nesses momentos deseja enterrar a cabeça na areia e fingir que nada sei.
Vejo hoje que sempre agi assim. Há quase três anos deixei ir amizades porque era mais fácil armazenar as emoções nos recônditos do meu ser do que enfrentar, muito simplesmente, tudo o que eu estava a sentir. E era muita coisa! É o conforto na cobardia quando deveria ter sido o desconforto na coragem.
Talvez este seja o próximo passo na minha caminhada. É duro, não sei muito bem como fazê-lo, mas não me parece que haja alternativas.
Quanto ao mundo de fora não sei até quando irei continuar a fugir ou, para ser mais rigorosa, até quando me será permitido fugir.
Vou fazendo a caminhada e logo se verá.
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