Reflexões
O termómetro marca 19ºC. Da janela do autocarro olho os céus que se pintam de cinzento. Estamos em Agosto. Ainda ando de sandálias e camisas cavadas. Não obstante, se me baseasse apenas na cor do céu, acharia que hoje era dia de chuva. Gosto desta sensação de Outono que quer, gradualmente, marcar presença.
Nos últimos anos tenho tentado tirar o melhor partido de cada estação do ano mas mantenho uma preferência, nada secreta, pelo Outono. Gosto dos tons de castanho, da folhagem a cair dos ramos das árvores, da brisa a soprar com mais força, do recolhimento que nos vai sendo pedido à medida que avançamos no ano.
Hoje, enquanto atravessava a Av. da República no 783, pensei imenso nesta minha admiração pela energia outonal.
Paralelamente, e indo ao encontro dos meus desabafos mais recentes, sinto que também este tempo me leva ao passado e me faz recordar imensas coisas.
Como já referi em partilhas anteriores, estou a passar por uma fase que às vezes chamo de "crise de fé", à falta de melhor designação. Não é propriamente uma descrença em relação ao que já dei como certo mas antes um questionamento.
Este questionamento surgiu, curiosamente, em relação ao uso do tarot.
Em 2020 comecei o meu estudo e prática desta ferramenta. Dei algumas consultas a amigos e, durante algum tempo, senti-me bastante conectada. Considerava que o tarot era um complemento importante, tal como a astrologia, da minha prática espiritual. Em que sentido? Se a espiritualidade passa pelo nosso autoconhecimento, o tarot, a astrologia, a meditação, o yoga e afins, poderiam ajudar nessa busca.
O problema surgiu quando comecei a aperceber-me do quão dependentes e obcecadas as pessoas ficam com estes instrumentos, como se de ora avante todas as nossas decisões tivessem primeiro de se submeter ao escrutínio das cartas e dos astros.
Adicionalmente, e pela minha experiência pessoal, verifiquei que muitas vezes a informação que é passada não se concretiza. Claro que podemos procurar n argumentos para explicar a incongruência dos resultados obtidos, alegar que, pelo nosso próprio livre arbítrio, determinada situação acabou por se desenrolar de outra forma. Mas a questão é: se pelo nosso livre arbítrio influenciamos diariamente o que nos acontece, qual a veracidade de um instrumento que tendemos a usar para fazer futurologia?
Esta semana vi um vídeo do Prof. Daniel Gontijo que entrevistou uma senhora que se identificava como ex-astróloga. (Ex-Astróloga) Ela partilhou a experiência dela e referiu um aspecto que nunca me tinha ocorrido. Segundo ela, as pessoas tendem a validar a astrologia (e o tarot, acrescento eu) porque elas focam-se naqueles elementos que batem certo e desvalorizam os que não ressoam. Dito de outra forma, se eu tiver uma lista de 10 aspectos, e apenas 4 fizerem sentido para mim, a minha análise vai depender mais daqueles 4 aspectos, do que dos restantes e aqueles 4 aspectos serão suficientes para eu me convencer que a informação é credível.
Mais uma vez quero referir que isto não é uma rejeição, mas mais um questionamento. Estou a identificar situações dúbias sobre as quais, na altura, eu não me interroguei. Para além disso, não pretendo convencer ninguém de nada. Cada um segue o seu caminho e faz o que acha melhor para si.
Eu própria admito que quando ganho interesse por algo torno-me muito obcecada e talvez, no fundo, o que eu pretenda fazer atualmente seja libertar-me das minhas obsessões, pelo menos daquelas que eu consigo identificar. Nenhuma obsessão é boa, seja sobre o que for. Não há obsessões saudáveis. Se é obsessão não é saudável.
Deixo o registo fotográfico desta manhã de Quarta-feira.
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