Histórias meditativas

"Um mês passou. 31 dias de reflexão, de interiorização da perda, do deixar ir e de olhar para o futuro com expectativa. Sou uma mulher corajosa, digo para mim mesma todos os dias. Aceito que tenho o que tenho e que não tenho o que não é suposto ter. Ponto. Paz com isso.
Sentei-me debaixo de um salgueiro e tentei meditar do meu jeito meio tosco. Considero-me uma pessoa pouco intuitiva mas decidi acreditar nas imagens que me vêm em pensamento. Sou uma bruxa dos tempos modernos.
Mal fechei os olhos, vi-te. Mal te vi, fugi, pus-me a correr desenfreadamente. De repente, questionei-me se era suposto estar a correr em pleno acto meditativo. Calei a dúvida e deixei-me ir.
Já estava longe quando te ouvi dizer: 
- Se passares a vida inteira a fugir nunca vais resolver nada!
Parei, olhei para trás, vi-te imóvel, longe, sério, a proferir as palavras que eu sabia serem tão verdade.
Caminhei de regresso. Quase a chegar, viraste costas e eu sabia que era suposto seguir-te.
Entramos numa floresta e caminhamos até uma casa de madeira. Entrei, tu ficaste à porta. Percebi duas coisas:
Primeiro, aquela foi um dia a minha casa. A casa onde me refugio vezes sem conta quando me sinto perdida. A casa que me traz recordações da minha floresta, das minhas árvores, das minhas plantas. Deitei-me na cama onde me deitei vezes sem conta, junto a uma janela de madeira aberta, com pingos de chuva a caírem. E chorei. Não sei se chorei pelo que estava a sentir ou pelo que já senti. Se era um lamento actual ou um lamento do passado ou se tudo isso estava condensado no meu peito e ali, em repouso, me era permitido trazer tudo à superfície.
Segundo, percebi que eras o espírito vigilante que me fizera relembrar o que fui em tempos. 
Levantei-me, fechei a porta atrás de mim e segui-te uma vez mais por entre as árvores. Por fim, chegamos a um riacho, onde uma estreita tábua de madeira unia as duas margens.
Passei para o outro lado. Tu não me seguiste. É isto não é ?! A partir daqui sigo sozinha. Cumpriste a tua função. Trazer-me uma recordação de mim mesma, mas agora estou por minha conta e risco.
Segui. Subi a montanha que avistava. Cheguei ao alto. Um templo de pedras encontrava-se no seu cimo. Descansei. Apetecia-me permanecer ali. Ao longe via histórias a desenrolarem-se. Aquelas histórias eram as minhas histórias. Sempre que eu descesse da montanha, iria viver ou relembrar uma dessas histórias.
Fui descendendo e à medida que me aproximava, a fogueira em frente ficava maior. Quando cheguei encontrei uma série de indivíduos parcialmente nus, escassamente protegidos com penas a dançarem à volta daquela enorme chama de fogo. Quando olhei para os meus braços, percebi que também eu fazia parte do grupo. Dancei. Dancei sem parar, anestesiada pelo som do batuque, pelo calor do fogo e das gentes. Por mim, podia ficar ali por mais algum tempo, mas não me era permitido. Um dos membros da tribo, puxou-me pelo braço. Pedi para ficar mas ele abanou a cabeça em negação. Levou-me para a floresta e disse-me para seguir pelo caminho de terra que  avistava à minha frente. 
Caminhei até chegar mais uma vez ao riacho e à minha frente encontrava-se novamente a mesma montanha. Tempo de subir mais uma vez.
O caminho é este. Ascendente até ao topo da montanha onde nos é permitido descansar por um tempo. Para qualquer lado que olhemos, temos vislumbres das nossas vidas passadas e futuras. Quando descemos, encarnamos e vivemos por um período de tempo até ser altura de seguirmos novamente pela floresta e até ao riacho e mais uma vez subirmos a montanha até ao topo."

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