Imensidão
Viver é difícil, digo-o como uma constatação.
Já ouvi falar do "saber viver bem", mas o saber viver bem não faz com que a vida seja necessariamente melhor, apenas paramos de lutar contra aquilo que a vida é.
Nos últimos dias tenho sentido as coisas com maior intensidade. Posso até afirmar que me sinto bem por ser capaz de sentir, ainda que o que sinto me deixe inquieta. A ansiedade vem trazida pelos sonhos, pelos receios, pelos medos. A ansiedade vem porque sou humana e nem sempre consigo arrumar as fragilidades nas gavetas dos armários que habitam o meu ser.
Não tenho grandes expectativas. Não podemos ter tudo o que queremos. Digo a quem tenha coragem para ouvir: há coisas que não são para nós; há coisas que, por mais que tentemos, não teremos. Não é preciso fazer um grande drama disto.
Lembro-me de concluir em tempos que a felicidade não é o objectivo da vida, mas um bónus. A felicidade não é um fim em si mesmo. Que ninguém pense que chega a este mundo com o objectivo da atingir a felicidade! Quiçá, virá para pegar o fio da meada do ponto onde ele ficou quando a pessoa que nos antecedeu passou por este mundo.
Tenho refletido nisto. Talvez não cheguemos a este mundo para resolver as nossas vidas passadas, mas para dar continuidade ao trabalho desenvolvido em vida pelos nossos antepassados. Talvez as supostas lembranças que trazemos não sejam nossas, mas deles. Diz-se que a água tem memória. Talvez sejam as nossas águas internas, através do nosso ADN, a trazer a recordação do que outro alguém viveu antes de nós.
Assim, esta Lídia não tem nem passado nem futuro longínquos, mas apenas presente. E um dia, alguém pegará a mecha de onde eu a deixei. Ou não! Talvez não deixe descendência. Talvez não gere vida, mas apenas palavras. Talvez as palavras sejam a minha descendência.
Não me preocupo muito com isso; se gero ou não vida. As expetativas esgotaram-me. Não consigo nem quero carregá-las mais.
Viajo para o alto da montanha e encaro o pôr do sol. Que espetáculo magnífico!
Hoje é assim que vivo a minha espiritualidade.
Não quero teorias. Não quero cursos nem livros de autoajuda. Não quero encontros à roda da fogueira. Não quero o cheiro do incenso. Não quero olhar os astros nem tocar nas cartas. Não quero que me digam quem sou. Não quero que me digam quem tenho de ser.
Comentários
Enviar um comentário