Pelos caminhos da fé

Recebi um presente especial de uma amiga especial: uma Bíblia para anotar, capa cor-de-rosa e argolas. Tão a minha cara! Tenho lido algumas passagens, tenho procurado explicações para partes da Bíblia que eu leio e não entendo, e tenho serenado com as partes que leio e entendo.

Tenho resistência a assumir que esta é a verdade. Eu não sei qual é a verdade. Sou um ser humano, com imperfeições, condicionamentos e opiniões. Apesar disso, tenho-me sentido melhor por recorrer a este livro sagrado.

Não sei muito bem como orar, nem o que é suposto dizer. Peço? Desabafo? Agradeço?

Já por diversas vezes me disseram que sou muito mental. Talvez seja por aí que eu resolva alguns dos meus bloqueios: pensar menos e sentir mais.

Comecei também a frequentar a missa. Não me identifico como cristã, mas senti necessidade de perceber como me sinto neste local. Percebi que prefiro capelas ou igrejas mais pequenas a igrejas maiores. Percebi que os cânticos me incomodam um pouco. Gosto do silêncio e sinto que os louvores cantados não me permitem ter esses momentos de silêncio. E muito se deve à acústica do próprio espaço.

Entendi que quando era miúda rejeitei o catolicismo e a Bíblia porque achava que eram muito doutrinários e castradores. Por outro lado, não entendia a fé em tantas coisas que não podiam ser cientificamente e racionalmente provadas. Mas hoje consigo ver que acabei por, também eu, e apesar da minha descrença, vir a acreditar em coisas muito esotéricas sem fundo racional e, digamos, até bastante estranhas.

Quando olho para a sociedade atual e vejo cada vez mais pessoas em busca da espiritualidade, reconheço nelas eu mesma, o acreditar em muita coisa porque parecia fazer sentido ou porque havia uma necessidade de acreditar que faziam sentido. E verdade seja dita, era giro. Assumia como aceitável dizer que era ashtangi, bruxa, filósofa esotérica, taróloga, simpatizante do budismo (parece que estou a falar de um clube de futebol), xamânica, adepta de tantas terapias a que hoje, muito honestamente, nem consigo qualificar.

Quero mais uma vez frisar que não sei qual é a verdade, nem pretendo afirmar que estou certa e os outros errados. Falo apenas da minha experiência e do que tenho vindo a sentir.

Outra coisa muito debatida nos vários textos que tenho lido e vídeos que tenho visto é a questão do narcisismo tão presente na sociedade atual. A "New Age" trouxe a ideia de a "minha verdade". A questão é que esta "verdade individual" acaba por nos desresponsabilizar. “Se eu vivo de acordo com a minha verdade está tudo certo, portanto o que eu faço não está errado.” “Os comportamentos tóxicos que eu possa assumir são vistos como experiências necessárias à minha evolução e crescimento.” “Eu só posso conhecer a luz depois de conhecer a sombra.” Não, não é porque é a minha verdade que está necessariamente certa. Passar por cima dos outros é errado. Dar combustível à ira e recusar fazer a mudança é errado. Viver na libertinagem dificilmente trará paz. E atenção, eu não estou a falar de pecado, estou a falar sim de comportamentos que não são saudáveis, mas que nós insistimos em desculpabilizar. Nem quero passar a ideia de "culpa" porque isso não ajuda ninguém. Pretendo sim defender a ideia de que se calhar deveríamos ser mais conscientes, refletir melhor sobre as nossas escolhas e não nos permitirmos a tudo só porque sim.

A “New Age” parece que nos trouxe muita liberdade para muita coisa, mas eu nunca me senti tão presa como quando mergulhei nos seus “ensinamentos”. Essa “liberdade” deu-me margem para procurar muita coisa, aceitar muita coisa acriticamente até chegar ao ponto em que, quanto mais me diziam quem eu era, menos eu me conhecia.

Hoje busco um novo rumo. Caminho devagar. Olho várias vezes para a direita e para a esquerda destas estradas da vida antes de atravessar. Ainda não sei muito bem para onde irei, mas acho que dificilmente voltarei ao “caminho” que vou gradualmente abandonando.
Termino com uma menção a Isaías 45:19 que gostei muito. A tradução deste versículo vai variar de Bíblia para Bíblia. Deus, falando a Israel, diz que não lhes teria pedido para o procurarem se não o pudessem encontrar.

Procura e acharás!



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