Quando as sombras me piscam o olho

Entre várias dificuldades que tenho, identifico estas duas. Dificuldade em parar e dificuldade em perceber qual a medida certa das coisas.

Na minha prática desportiva, que constitui uma parte tão importante de quem eu sou, debato-me frequentemente com estas duas questões. Sinto que uso a atividade física como forma de me evidenciar. Ridículo quiçá, mas tem sido esta a única esfera onde reconheço e encontro a minha força. Fora dela, sinto-me demasiado vulnerável para gostar do que vejo em mim.

Fui assim no ashtanga. Continuo assim agora noutros círculos. Sempre em exigência, sempre a puxar pelo corpo mesmo que me doa.

Hoje enquanto me debatia, e por fim me autorizei a ir diretamente para casa, apercebi-me que há algo em mim que imagina outro alguém a ver-me. Imagino espectadores da minha destreza física a preencheram as minhas lacunas e vazios emocionais. Mas é uma completa ilusão. Não há ninguém a ver-me, a não ser eu mesma (e mal). Ninguém espera nada de mim. Para quem não gosta de mim, é irrelevante. Para quem gosta, irrelevante é porque creio que para essas pessoas não terei de ser nada em especial.

Mas se eu não for isto pelo que luto tanto enquanto treino, quem sou eu? Que terei eu de valor para mostrar ou oferecer a alguém? Quem serei eu para além daquela que trabalha, está com a família e caminha? Não me importo de ser aquela que trabalha, que está com a família e que caminha, mas gostaria de ser mais do que isto.

Vejo que as minhas atitudes roçam a constante sensação de insuficiência que por vezes imagino estar ultrapassada.

Relembro-me quando a Teresa me aconselhou a não estar sempre em fuga através das minhas caminhadas o que fazia tardar o meu regresso a casa.

Hoje ao pegar nas palavras do Thich Nhat Hanh percebo que há uma necessidade de preencher o meu tempo porque um tempo vazio parece-me demasiado oco como um saco vazio carregado a tiracolo. E mesmo que me digam que nesse vazio posso arranjar o espaço necessário para o que realmente interessa, a não ser que o que realmente interessa venha muito rápido, eu resisto a parar.

Penso que é isto. (Dito à boca pequena.)

Há uma parte de mim que quer parar e que sabe que tem de parar. Mas há outra parte que me impele a estar constantemente a fazer algo como se isso fosse uma condição para dignificar a minha existência. E que esse algo seja algo que me faz sentir forte. Mais uma vez a "força" em contraste com a vulnerabilidade que tanto abomino.

Honestamente posso dizer que me sinto bem, mas sei que não está tudo bem e estas constantes questões forçam-me a olhar para as minhas áreas cinzentas e delicadas.

Hoje regresso a casa cedo. Não consegui exigir mais de mim. Estou cansada. Apetece-me aninhar-me no sofá. Digo à minha mente para parar de me torturar. Já bastam as dores no corpo.

(Imagem retirada da net, pode ter direitos de autor)







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