"A Pianista" de Elfriede Jelinek - Reflexões
Terminei hoje a leitura do livro "A Pianista" de Elfriede Jelinek. Não sei muito bem o que pensar do livro e se recomendaria a sua leitura a alguém.
Foi-mo oferecido há alguns anos, andava eu ainda na Faculdade. Pelos sublinhados e vaga lembrança, quando peguei nele novamente percebi que o tinha deixado a meio. Entendo o porquê. A linguagem é difícil. Os diálogos são sempre em discurso indireto, estranhos e confundem-se com a narrativa. Os cenários mudam bruscamente e muitas vezes é difícil perceber onde as personagens se encontram e o que estão a fazer. A par disto tudo, o tema é polémico.
Uma pianista de 36 anos mantem uma relação de co-dependência com a mãe, partilhando ambas inclusivamente a mesma cama. Caso para dizer, que o cordão umbilical nunca foi cortado. Há um controlo exacerbado sobre esta mulher e uma negação total do prazer, influência da educação e controlo maternos. Usa roupas sem graça, pesadas para a idade que tem. Secretamente ela automutila-se, visita espaços noturnos em que mulheres desfilam nuas e espia casais a fazerem sexo nos extensos parques pela calada da noite.
Um dos seus alunos, 10 anos mais novo, ganha interesse por Erika, o nome desta professora, e acabam por se envolver.
Se tudo isto não fosse já um tanto ou quanto perturbador, o que advém deste encontro entre as personagens ainda o é mais. ALERTA SPOILER: Erika redige uma carta em que expõe tudo o que Walter, o seu aluno, poderá fazer com ela. Inclui vários tipos de violência física e psicológica. Walter fica chocado com esta perspectiva. Afinal ele visava entregar-lhe amor quando ela lhe pede violência. Para Erika a violência requerida seria mantida nos seus termos possibilitando, assim, que pudesse manter o controlo.
Já na recta final do livro, Walter visita Erika a casa agindo de forma violenta e violando Erika, confrontando-a com o que ela própria teria pedido. Mas afinal não era bem isto que Erika pretendia.
A relação tóxica que Erika mantem com a mãe é extremamente perturbadora. Também o é a violência que Erika exerce sobre o seu próprio corpo. E talvez mais do que tudo isto, o pedido que Erika faz a Walter que acaba por transformar a possibilidade do amor em atos de violência.
Será possível que a dor nos faça solicitar mais dor? Que estejamos tão bloqueados emocionalmente que só imaginamos o prazer através da dor? Que não nos consigamos achar merecedores do amor?
Senti uma profunda tristeza por esta personagem, por tudo o que falhou na sua construção enquanto ser humano e enquanto mulher que a conduziu às circunstâncias descritas.
Por fim, senti alguma tristeza por mim mesma nas partes em que a entendi e me revi na sua história.
Hora de devolver o livro à estante e deixá-lo lá por mais 20 anos a ganhar pó! Quanto às similitudes, é sempre tempo de refletir e aprender alguma coisa.
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