Desabafos
13 de junho
Há 10 anos, iniciei aquilo que eu achava que era um caminho dedicado à espiritualidade e, como tal, seria um caminho pela verdade.
Na minha enorme arrogância, ignorância e infantilidade, considerei que todas as almas, a um dado momento das suas existências, só poderiam tomar uma decisão semelhante a que eu tomava naquele instante. Entrei pelo Yoga, pela filosofia, pelos rituais, pela meditação, passei pelo Tarot, pela Numerologia, pelo Xamanismo, pelo Sagrado Feminino, fora as áreas afins que me suscitaram interesse, ainda que não tenha mergulhado nelas em profundidade. Procurei aqueles que eu achava que me poderiam ensinar e orientar sem, contudo, alguma vez os ter chamado ou considerado de mestres. Não acredito em mestres fora de nós. Muito menos em gurus. Rejeito qualquer tipo de vassalagem aos imensos de galos de capoeira que ao longo da existência têm lutado pelo poleiro. Venero um conhecimento que, para o ser realmente, deverá estar sujeito ao escrutínio ad eternum. Não venero ninguém.
Tenho a sensação - e poderei estar errada - de que a pandemia levou a uma procura enorme destes temas. Não só por quem já sentia esse ímpeto, mas também por quem talvez precisasse de arranjar uma explicação para o que estava a acontecer.
Dois anos passaram e hoje observo, com enorme tristeza, que aquilo que eu um dia senti como sagrado, virou uma moda muito semelhante à compra de um par de ténis da All Stars. [Eu ainda sou do tempo em que ter uns All Stars era um máximo]. O mais irónico é que o que eu hoje critico no outro é o que eu fui há uns anos, e talvez o que eu ainda sou hoje mas que não consigo ver.
Tantas vezes são os outros que nos mostram os nossos próprios equívocos e ilusões. E talvez, no final de contas, também eu tenha ambicionado o poleiro que hoje critico.
Nos últimos meses tenho questionado imenso este caminho que iniciei precisamente há uma década.
Nem sempre me traz paz, nem sempre me traz tranquilidade. Há dias em que me sinto a pior versão de mim mesma, sem qualquer peso na consciência. Há dias em que gozo com as minhas próprias crenças. Há dias, nos dias realmente dolorosos, em que me pergunto se terei alguma vez a honestidade de admitir perante mim mesma, o porquê de eu hoje questionar tudo.
Não tenho respostas. Reduzi sobremaneira o número de perguntas que faço.
Actualmente, para mim viver é estar. Deitar-me na relva fofa, olhar o céu e não perguntar nada.
16 junho
3 dias passaram. Por falta de tempo não consegui completar o post e ficou nos rascunhos. 3 dias que afinal serviram para me fazer refletir nas minhas próprias palavras. Ficarão em tom de desabafo. Se ampliasse a audiência, talvez soasse a sermão e talvez me tivesse arrependido.
É verdade que questiono, mas também as minhas dúvidas poderão ter na base os mesmos equívocos a que hoje aponto o dedo.
Honestamente, que sei eu para opinar ou dizer o que está certo ou errado, o que é verdade ou mentira? Quem sou eu para achar que a minha desilusão valida a suposta queda de valores na via espiritual?
Quem sou eu para falar o quer que seja?
Mais uma vez sublinho, deixo as palavras acima como mero desabafo. Cada um fará o que lhe fizer sentido.
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