Rascunhos
Sempre gostei de escrever, desde menina. Achava que tinha talento, talvez incompreendido por muitos. Recebia elogios da minha família, os meus poucos leitores, que se riam imenso com as minhas descrições pré-adolescência.
Quando vim para Lisboa aos 18 anos, para a Faculdade, perdi o gosto, a vontade e o qualquer talento que eu achava residir em mim. Com o tempo voltou.... Algum gosto, alguma vontade mas pouca capacidade.
Quando escrevemos para nós mesmos há uma genuinidade que acabamos por perder quando partilhamos com o mundo. Há momentos em que o mundo se torna tão assustador que temos medo de lhe mostrar o que nos vai na alma. E depois há dias em que sentimos que simplesmente não vale a pena.
Estou à procura desse tempo em que eu era "genuína" para aí encontrar algo que achava ter e que considero ter perdido. Percebo a ironia! Passei anos a desdenhar do meu passado mas agora peço-lhe a ele - a esse passado onde encontrei tantas falhas - para me ajudar a recuperar algo que, em algo momento, me fez autêntica. E reparem como falo de "autenticidade" e não de "talento".
O talento é uma suposta aptidão para algo que ou vemos em nós ou alguém o reconhece por nós. Também pode ser uma inaptidão a que resistimos dar o devido nome. Mas tudo isso se torna quase irrelevante quando admito, perante mim mesma, que o que realmente procuro é a honestidade nas palavras. Essa honestidade existe nos rascunhos da minha infância, mas não tenho a certeza de que a encontre aqui.
E talvez isso não me devesse incomodar, mas incomoda.
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