Grito

O meu coração está pesado.

Reviro a sua pele como se fosse um saco e sacudo-o à espera de que dele caia algo.

Voam pedaços de folhas rasgadas com a minha letra impressa. Não me atrevo a juntá-los. Não quero recolher palavras do passado nem histórias que cairam no vácuo. Foram meros disfarces para tudo o que sentia e fingia não sentir.

- “Vens para agradar?” – perguntam-me. Encolerizo-me, mas silencio a voz enquanto cruzo os braços sobre o peito.

… tic-toc….

… tic-toc….

… tic-toc….

[Rasgo as paredes, parto os vidros, queimo os livros, abro as janelas e grito como um animal selvagem preso numa armadilha…. Arranco pedaços de pele do próprio corpo até chegar às paredes do pequeno coração que insiste em bater.

- Pára! – grito-lhe!

- Não! – responde-me com uma voz cavernosa.]

O grito tenebroso da minha mente acorda-me. Ali continuo sentada de braços cruzados.

Minha querida besta infeliz que anseias tanto por sair e eu não deixo.




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