Terra interior

Há uns anos, num dos primeiros diálogos que tive com um dos meus (na altura!) grandes amigos, ele relembrou-me que só podemos trabalhar a nossa própria terra. Esta terra não diz respeito ao local onde nascemos ou habitamos, mas a nossa terra interior, o nosso caminho e percurso de vida. Às vezes questionava-me como certas pessoas enfrentavam com tanta bravura as dificuldades e amarguras da vida até que percebi que elas, a bem ou a mal, aceitaram o caminho que vieram fazer, essa terra sagrada que as habita e sobre a qual pousam os seus pés.

São tempos difíceis... Ninguém duvida disso.

Atualmente a conjuntura mundial é a que todos nós conhecemos e individualmente cada um de nós foi, é ou será afetado pelas mudanças que estão em marcha. De pouco valem os lamentos e muito menos a vitimização. Em nós existe e existirá sempre a possibilidade da escolha, de qual o caminho a seguir e de como enfrentar as consequências da nossa decisão.

A lua hoje junta-se ao sol no signo de Balança e desde há uma semana que sinto o ar pesado e os céus carregados. As pessoas andam mais irritadas, eu incluída, para além de um certo sentimento de melancolia quiçá trazido pelo frio do Outono que pouco a pouco se vai instalando. Os transportes públicos vêm cheios, as conversas multiplicam-se sobre o mesmo tema. As máscaras escondem as expressões faciais. Lembro-me de ter o hábito de observar os rostos anónimos e tentar adivinhar o que tal pessoa estaria a pensar ou a sentir. De momento, é impossível. Parecemos apenas corpos em movimento. Sim, é triste. De repente é como se o homem se tornasse num robô em plena linha de montagem e sucessivamente lhe vai sendo pedido para obedecer, acatar regras, cumprir restrições e não questionar.

E é neste contexto que me recordo que trago a minha terra para trabalhar e por muito difícil que possa ser para mim lidar com algumas situações, quero fazer como aqueles homens e mulheres que me inspiram, ter presente que tenho um caminho para fazer, que aceitei fazê-lo (sei-o no meu coração) e que o farei da melhor forma possível dentro das minhas capacidades,

A vida é o que é, as circunstâncias são o que são. Não viemos cá para que tudo seja um mar de rosas. Não encarnámos para vivermos apenas de sorrisos e facilidades. O trajeto pede-nos que aprendamos, que evoluamos enquanto seres individuais e enquanto humanidade. 

A todos votos de uma boa semeadura. Tratem bem da vossa terra. O benefício será para todos.




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