Ilusão

Os grandes filósofos e místicos da história sempre nos alertaram que o que julgamos ser verdade é uma mera ilusão.  Nascemos, crescemos e são-nos dadas fórmulas que, muitas das vezes, já nem funcionam, ou incutidas normas, regras e, sobretudo, formas que nos conectam muito à terra e desconectam-nos do nosso lado mais divino.
Quando falo do nosso lado mais divino, não pretendo afirmar que somos deuses, mas há algo em nós que não é deste mundo e é nesse algo que reside a lembrança do que é belo, do que é justo, do que é bom.
Osho, no livro que dedicou à temática da liberdade, afirma que a primeira fonte de aprisionamento é a família. São aqueles que nos são mais próximos que nos dizem: “és isto”, “tens de ser isto”, “tens de ser desta religião”, “tens de acreditar nisto”…. E por essas crenças lutamos, defendemos e criticamos os que não pensam como nós. Esquecemo-nos  de que, se houvesse uma reflexão profunda e virada para o interior, se calhar nem nós mesmos acreditaríamos no que defendemos tão arduamente.
E volto, então, ao princípio, quando recordo aquela ideia de que tudo isto é ilusão. Basta pensar neste ato de escrever. Escrevo numa folha branca virtual que, na verdade, não existe. É como o dinheiro. Trabalho no departamento de faturação e diariamente tenho de fazer pagamentos e transferências, mas, às vezes, tenho a sensação que movimento números e não dinheiro. Não tenho as notas e as moedas à minha frente. Tenho um computador e um programa que me permite fazer isto. O computador é muito mais real do que propriamente o dinheiro.
Tomamos como real o que vemos. Tomamos como real o que pensamos. Tomamos como real o que sentimos. E logo pensamos que somos o que vemos, o que pensamos e o que sentimos. A não ser que o vejamos seja o belo, a não ser que o que pensamos seja o justo, a não ser que o sentimos seja o bom, a única coisa que poderá advir é dor e sofrimento. Deles [dor e sofrimento] somos reféns, e permitimo-nos a este estado porque, na verdade, somos ignorantes.
Buda alerta-nos para isso nas quatro nobres verdades.
A primeira assenta na ver­da­de do sofri­men­to, e então Buda diz: “Tudo é sofrimento.” Podia ser um pouco deprimente pensar assim, mas há uma lógica no raciocínio. Por mais momentos prazerosos que possam existir, passaremos também por momentos de enorme angústia. Mas há um conforto que é dado pela segunda premissa que explica a origem do sofrimento e que remete para a ignorância ao apegarmo-nos ao que é ilusório.
A palavra sânscrita para ignorância é avidya. Avidya, muitas vezes, é representada por um homem cego, cuja existência é determinada pelo karma. É o homem que não sabe de onde veio, nem para onde vai. Umm… bastante familiar!!!! 😊 Creio eu, contudo, no meu enorme desconhecimento, que isto nem é o mais dramático.  O dramático é não querermos saber. Neste sentido, avidya é uma escolha. Escolho não querer saber porque saber também dói. Querer saber, escolher saber é quase que entrar em trabalho de parto para dar à luz um novo “eu”.  E não há parto sem dor….
Resumindo, somos mais do que é visível, há mais para além da cortina da ilusão, é possível ver com mais clareza quando nos propomos a desmantelar os dramas mentais. Acima de tudo, podemos ser muito mais do que somos habitualmente. Acho que era o que queria dizer no meio deste paleio todo. Podemos ser mais, melhores e, sobretudo, nós mesmos e há um momento em que tudo o resto se torna supérfluo porque o resto também não é assim tão relevante. O resto só tem a importância que lhe damos. 




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