"CORAÇÃO DURO EM NOME DE DEUS", autoria Padre João Torres
Transcrevo, por completo, este texto do Padre João Torres para que me acompanhe quando me surgem tantas dúvidas de como viver a Fé de forma mais saudável.
CORAÇÃO DURO EM NOME DE DEUS
À força de rezas e renúncias, de jejuns e silêncios, de hábitos e normas,
há quem tenha secado por dentro.
E não é culpa da oração.
É que quando a fé deixa de ser encontro
e se torna desempenho,
o coração deixa de ser altar
e vira tribunal.
Tantos se dizem homens e mulheres de Deus,
mas vivem mais atentos às falhas alheias
do que às dores que passam ao lado.
Tantos se consomem a medir saias, julgar gestos, pesar palavras,
mas esquecem o abraço, a escuta, a ternura.
Vivem a observar…
mas não veem.
A fé não foi feita para endurecer.
Foi feita para nos humanizar.
Não é a santidade que nos afasta do mundo —
é a ausência de compaixão que nos isola.
De que serve rezar longas horas
se não somos capazes de pedir perdão a quem magoámos?
De que serve comungar todos os dias
se o pão que partimos não chega ao vizinho do lado?
De que serve jejuar da comida
se não jejuamos da arrogância?
Andar com Deus é ter um coração doce,
capaz de chorar com os que choram,
de rir com os que se levantam,
de compreender antes de condenar.
Se queres saber como anda a tua relação com Deus,
olha para a forma como tratas os que te rodeiam.
Olha se ainda te comoves,
se ainda és capaz de escutar sem corrigir,
de perdoar sem exigir desculpas.
Isto vale para todos.
Mas vale de forma especial para nós —
os religiosos, os padres, os bispos, os que servem nos altares.
Porque só se leva Deus a sério
quando se leva o outro no coração.
E se há dureza em nós,
que seja apenas contra o nosso próprio orgulho.
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