Immaculee Ilibagiza
Desde que comecei a ler este livro, sabia que teria de escrever sobre ele.
Há cerca de uma semana cruzei-me com um reels no instagram onde Immaculée
Ilibagiza testemunhava sobre a sua história de vida e o quanto a mesma foi
abalada pelo genocídio de 1994 em Ruanda, seu país natal. Nos vários
comentários, diversas pessoas mencionavam o seu livro – Left to Tell – e no
mesmo instante senti uma enorme vontade de o ler.
Immaculée retrata uma infância feliz. O início do livro começa com a frase: “Nasci
no Paraíso”.
Mais tudo isso mudou quando em 1994 hútus extremistas começaram a matar tútsis
(a tribo à qual Immaculée pertencia) e outros hútus moderados.
A mortandade apoderou-se do país.
Immaculée sobreviveu escondida numa minúscula casa de banho com mais 6 mulheres.
O local era tão pequeno que nem dava para estarem todas sentadas no chão ao
mesmo tempo.
Ficou lá 3 meses, sem saber qual o destino dos seus familiares e constantemente
com o receio de ser descoberta e morta. Fora deste pequeno espaço que se
encontrava na casa de um pastor local, Immaculée ouvia os assassinados chamaram
o seu nome, convencidos de que ela estaria perto. Mas nunca a descobriram!
Immaculée acredita que
foi salva por Deus que tinha um propósito para ela. Tinha nascido numa família
cristã (católica), extremamente religiosa, e os seus pais foram um exemplo vivo
de amor e respeito pelo próximo.
Na sua estada de 3 meses, dormia pouco e passava grande parte do seu dia em
oração. Diz que foi o que a permitiu aguentar o martírio. Deus foi o seu único
e verdadeiro amigo que a ajudou a aguentar.
Quando finalmente saiu, quando os hútus estavam gradualmente a perder a guerra,
ela viria a descobrir que grande parte da sua família tinha perecido.
Immaculée conta que em sonhos Deus já lhe tinha comunicado essa perda e que lhe
tinha aconselhado a não entrar em desespero porque Ele estaria sempre com ela.
Contrariamente ao que
muitos de nós fazem quando passam por privações, Immaculée nunca questionou o
porquê de Deus deixar que a guerra acontecesse. Para ela, a violência não tinha
a mão de Deus, mas de algo muito maligno que ela via nos olhos dos assassinos enquanto
seguravam os seus facões.
Pouco livros me impactaram tanto como este.
Não gostaria por nada deste mundo passar pelo que ela passou, mas não consigo
não admirar a sua coragem, resiliência e fé. No lugar dela, creio que teria enlouquecido
como aconteceu com muitos dos tútsis que sobreviveram.
Nos últimos meses tenho questionado o que é a verdadeira espiritualidade. Ao
longo da minha vida ouvi várias opiniões e conceitos, tive várias opiniões e defendi vários conceitos, cruzei-me com muito boa gente convencida de que estava num elevado grau de evolução.
Não sou ninguém para
impor uma definição, mas não consegui deixar de pensar ao ler a história de
Immaculée, que talvez a verdadeira espiritualidade esteja mais próxima daquilo
que ela conseguiu fazer: mais do que sobreviver, conseguiu perdoar quem lhe roubou
as pessoas que mais amava.
Os países ditos de
terceiro mundo conseguem por vezes mostrar-nos o pior, mas também são eles que nos conseguem mostrar o melhor do ser humano, e esse melhor – na minha opinião – é bem melhor do que
o melhor do mundo ocidental.
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