"(...) divórcio da humanidade" // Milan Kundera (1929-2023)
"Ainda tenho nos olhos a imagem de Tereza sentada num tronco, a afagar a cabeça de Karenine e a meditar no fracasso da humanidade. Ao mesmo tempo, aparece-me outra imagem: a de Nietzsche a sair de um hotel de Turim. Vê um cocheiro a vergastar um cavalo. Chega-se ao pé do cavalo e, sob o olhar do cocheiro, abraça-se à sua cabeça e desata a chora.
A cena passava-se em 1889
e Nietzsche, também ele, já se encontrava muito longe dos homens. Ou, por
outras palavras, foi precisamente nesse momento que a sua doença mental de
declarou. Mas, na minha opinião, é justamente isso que reveste o seu gesto de um
profundo significado. Nietzsche foi pedir o perdão por Descartes ao cavalo. A
sua loucura (e, portanto, o seu divórcio da humanidade) começa no instante em
que se põe a chorar abraçado ao cavalo."
A Insustentável Leveza do Ser
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