Lua interna
Sangro, literalmente. Hormonal e factualmente falando, cumpro o meu ciclo lunar e a minha lua desce a meio da noite. Enrosco-me nos cobertores, encolho-me e peço que com o meu sangue desçam também as preocupações, os apegos e quaisquer emoções ou sentimentos tóxicos.
Não sinto muita dor, apenas um ligeiro desconforto.
De manhã sigo para a capital. Sentada na segunda carruagem do suburbano, de auriculares postos, vou focando a minha atenção nos ensinamentos daqueles que sabem tão mais do que eu, através dos áudios que escolhi criteriosamente na véspera. E acalmo-me.
Durante a manhã sou assolada por algumas lembranças. Dizem os entendidos que nesta fase do mês as mulheres são obrigadas a lidarem com aquilo que passam o resto do tempo a tentar reprimir. Não é um acaso a fama que têm de ser temperamentais.
Respiro fundo. Hoje não. Não quero dar voz às minhas vozes de sempre, nem enveredar nos mesmos queixumes. Posso arranjar qualquer justificação para a minha ira, mas prefiro arranjar justificações para não a deixar manifestar-se.
A Lídia em que me vou tornando [ou, na verdade, na qual me vou descobrindo] quer escolher diferente, quer escolher melhor.
E abraço-me sentindo todas as transformações no meu corpo. Mais roliça, mais pesada, com a mente distante e um tal cansaço que me faz agradecer de coração o facto de ser véspera de fim de semana.
E o tempo passa e a mulher em mim vai passando através dele pelos estágios da sua vida.
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