Noturna
Uma vez por semana tenho aulas até mais tarde. São três horas de inspiração, de partilha, de imagens e símbolos num espaço virtual que, por mero acaso ou não, é constituído apenas por mulheres.
Nesse dia, e talvez pela hora tardia e cansaço avançado, quando adormeço recebo os sonhos mais pesados, vividos e marcantes da semana. Mergulho num mundo que, ainda que aparentemente distante, habita nas profundezas do meu ser.
Esta noite foi atípica. Acordei de madrugada perturbada, mas logo as imagens se dissiparam pelo que não sei a que se devia a minha inquietação. A minha mente parecia ter despertado mas o meu corpo permanecia adormecido. A dada altura dei ordens a mim mesma para sentir as minhas mãos. Mexi os dedos para descobrir alegremente que eles ainda respondiam aos meus pedidos. Apenas os dedos mexiam. O resto do corpo permanecia imóvel. Ainda que engolida pela escuro da noite, não senti medo. A minha casa é o meu porto seguro. É na protecção destas paredes que recupero a minha energia.
As mensagens faziam-me remoer dores e trajectos que chegavam ali em espasmos. Ora me inquietavam ora me sossegava no momento em que me esquecia deles. Os sonhos são assim, como vislumbres, como um pisca-pisca, como um acende-apaga, um lembra-esquece.
Sosseguei-me. Virei-me para o lado não sem antes pedir à senhora da noite que me fizesse relembrar a mensagem subentendida quando eu estivesse preparada para a integrar.
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