Vivendo com POC e ansiedade - 2

Fui ao médico. Pela primeira vez posso afirmar que estou a ser devidamente acompanhada. Já marquei consulta de psicologia para o início de Novembro.
Quero "curar" a minha mente. Não sei se curar é a palavra certa, até porque duvido muito que seja possível curar comportamentos e pensamentos que já estão tão enraizados.
Confesso que a farmacologia ainda não me trouxe grandes melhorias. Em relação à minha toma habitual, foi aumentada a dosagem de 50mg para 100 mg. Li na bula que o máximo diário aconselhável é de 200mg.
Não sei bem o que é que estava à espera que acontecesse. Alguma melhora, quicá! Mas sinto-me pior. Sinto que os meus sintomas pioraram. A minha mente não pára. Há momentos em que me sinto tão cansada que tomo um calmante não porque me sinta ansiosa mas para ver se o fluxo mental abranda.
Estes sintomas são-me familiares. Há cerca de 12/13 anos passei por algo semelhante, um ano depois de ter sido consultada pela Ana Rita e de ter aprendido, em 6 meses, a controlar a minha doença de certa forma.
Volto a dizer o que já disse várias vezes. Não sou uma pessoa infeliz. Eu sei que não sou. Sou capaz de encontrar beleza em coisas simples e de encontrar uma paz enorme em trivialidades. Mas o TOC bloqueia-me, sobretudo, quando os sintomas se agravam.
Para além disso, acabei por perceber que esta doença condicionou muito os meus relacionamentos. Levou-me a afastar-me imenso das pessoas com medo de desenvolver uma preocupação obsessiva com elas, semelhante ao que já tenho com a minha família próxima.
Além disso, continuo a manter a ideia de que, qualquer pessoa que prive demasiado tempo comigo, acabará por se aperceber dos meus comportamentos estranhos.

Mas, bolas! Não sou louca! Não sou burra!
Considero-me até inteligente o bastante e apta a resolver situações no meu trabalho, por exemplo.
Mas não sou hábil nos relacionamentos. Sinto que há um défice em mim, uma incapacidade em funcionar dentro de uma certa normalidade.

Às vezes gostaria de poder fazer um reset à minha mente, mas sei que isso implicaria retirar não só o mau mas também o bom, retirar o que não funciona mas também tudo o que eu já aprendi.

Não sei porque sou assim. Ou antes, acho que sei. Lembro-me das imensas brigas dos meus pais e sei que isso me marcou imenso. Ainda hoje, aos 42 anos, consigo sentir exatamente a mesma ansiedade e tristeza quando eles começam a brigar. E continuo a carregar a ideia de que eu posso resolver alguma coisa na vida deles. No fundo, nunca larguei o passado.

Sempre gostei de caminhar e quando, ao longo das caminhadas, passava perto de alguma escola, sentia uma certa nostalgia. Não daquele espaço assim, até porque eu não cresci em Lisboa, mas nostalgia de um tempo que eu gostaria que tivesse sido diferente.

Nós somos a soma das nossas escolhas e houve escolhas que eu achava que seriam momentâneas mas que se foram tornando permanentes.

Quando era mais jovem achava que haveria um tempo para me tornar no que eu queria ser e hoje acho que só me resta aceitar o tempo do que eu consegui ser.

Não estou triste. Estou apenas pensativa, a indagar sobre os estranhos caminhos da minha vida.



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