Vivendo com POC e ansiedade - 1

Creio que nunca escrevi sobre este tema. Não é confortável para mim. Poucas pessoas sabem e pouquíssimas das poucas que sabem, entenderão realmente o que eu vivo e como vivo.

Os comportamentos ditos "estranhos" começaram quando eu ainda era uma adolescente. A memória mais antiga que tenho leva-me para o 6.º ano de escolaridade pelo que, na altura, teria cerca de 11/12 anos.
 
O diagnóstico de "Perturbação Obsessiva-Compulsiva" viria muito mais tarde. Nessa altura eu achava apenas que era uma pessoa estranha, única na estranheza, com comportamentos estranhos. Ninguém poderia entender.

A minha perturbação sempre esteve associada muito ao medo de perder as pessoas de quem gosto. Nunca consegui encaixar o conceito de morte e quando o ouvi, anos antes, a tristeza foi acompanhada de uma profunda incompreensão.

Este medo foi-se fortalecendo. Os meus rituais eram disfarçados, escondidos, salvo raros momentos em que era observada por colegas minhas que esboçavam um sorriso jocoso.

A estranheza que eu achava que me caracterizava afastou-me durante muito tempo do verdadeiro diagnóstico. Se não havia uma doença porque iria eu pedir ajuda?

Em 2009, tive uma fase de poc muito profunda. Eu considero que as fases de poc para serem consideradas profundas têm de se caracterizar por um aumento significativo no número de rituais, acompanhadas de uma ansiedade persistente e por um lato período de tempo. São critérios meus que me têm servido mais que não seja para identificar períodos homólogos em que eu sinto que estou a começar a "perder o controlo" e alguma coisa terá de ser feita.

Lembro-me de, nesse anos, estar na minha antiga casa em Benfica e passar imenso tempo a ligar e desligar a luz no interruptor. Lembro-me de ir pôr e buscar a minha irmã ao trabalho (eu estava nessa altura desempregada) por ter medo de que algo acontecesse. O cansaço mental tomou conta de mim.

Por um feliz acaso, dei com uma entrevista que tinham feito ao Roberto Carlos que também tinha poc. E ao ler a explicação dele, pela primeira vez, coloquei a hipótese de não ser única no mundo, de que a característica que eu achava que possuía fosse na verdade uma doença de foro mental.

As origens do poc não são claras. Falam em fatores biológicos, predisposição genética, traumas de infância,... Não sei! Não sei porque sou assim mas sei que há dias em que é extremamente difícil.

Em 2009 a minha psicóloga de então deu-me o meu diagnóstico.
Em 2014 tive um surto forte. Já falei disso aqui: Desertos da Vida

Atualmente sinto-me na corda bamba. Não me sinto triste, nem deprimida. Sinto, contudo, que estou sempre demasiado preocupada. A preocupação faz aumentar a minha ansiedade e a ansiedade faz disparar os rituais.

Não quero estar assim, pelo que, depois de 2009 e 2014, vou mais uma vez pedir ajuda.

Talvez haja coisas em mim que eu já não consigo mudar, que já estejam demasiado enraizadas para que eu consiga "curar" a minha mente. Talvez nem se trate de curar mas sim de aprender a viver com isto de uma forma mais saudável. Mas quero tentar. Quem tentar estar melhor, mesmo que isso implique procurar um tratamento mais adequado.

Tanto poderia falar e escrever sobre como o poc tem condicionado a minha vida e a forma como me relaciono com as outras pessoas, mas creio que o registo ficará para outra altura.

Resta-me saber que nem tudo é mau. Ontem, depois do trabalho, fui caminhar até Alcântara. A dado momento questionei-me se, caso a minha vida cessasse naquele momento eu ficaria orgulhosa da vida que levei. Sinceramente, acho que sim. Não tenho a vida que imaginava para mim, mas cresci tanto, aprendi tanto, mudei tanto, maravilhei-me tanto às vezes com coisas tão simples. Sim, valeu e vale a pena.



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