A Lua
Na astrologia, este luminar representa as nossas emoções e a nossa forma de sentir. A lua sente-se em casa quando está em caranguejo - não fosse caranguejo o regente da casa 4, espaço da família, do passado e das nossas raízes - e está em exílio quando se encontra em capricórnio.
Esta foi uma das primeiras
abordagens que aprendi, antes de descobrir o Tarot.
Não sendo esta lâmina XVIII uma das mais felizes, também não tem de ser interpretada como necessariamente
má.
Didier Derlich refere no seu
livro sobre Tarot que há um certo preconceito – injusto! – relativamente a esta
carta, como se o aspeto masculino – yang e sol – fosse sobrevalorizado em detrimento
do aspeto feminino – yin e lua. Na verdade, diz ele, sol e lua são necessários.
O sol precisa tanto da lua como a lua precisa do sol.
Que é então esta lua e
porque trago hoje uma reflexão sobre a mesma?
Bem, devo dizer que sou
parte interessada nesta análise porque astrologicamente tenho uma presença
forte de caranguejo e durante imenso tempo – quase a vida toda – rejeitei esta
energia. Por outro lado, e estando eu a fazer um profundo trabalho de sombra desde
há dois anos, considero que não é possível fazê-lo de forma satisfatória se a minha
“lua” interna não for devidamente integrada.
A Lua traz-nos para dentro, enquanto que o Sol nos leva para fora. E é fácil
fazer uma associação com o dia e a noite. De dia estamos mais ativos, realizamos
coisas, concretizamos… A claridade torna-nos a nós e aos outros mais visíveis.
Há uma maior amplitude visual do que captamos. Não quer dizer que estejamos necessariamente
a ver a verdade sobre aquilo que nos rodeia. Isso já é outra história! Mas
vemos o que é projetado.
De noite, tendencialmente, há o recolhimento, o descanso, o abrandar do ritmo,
a imersão no sonho e no inconsciente. A claridade cessa, o nosso raio de visão
é menor. Para quem conduz de noite isto é bem claro! Não conseguimos ver para
além de uns poucos metros à frente e se não houvessem faróis a iluminar o
caminho, não conseguiríamos ver realmente nada.
Este é o aspeto feminino que para mim comporta duas ideias muito importantes:
ciclicidade e intuição.
Miranda Grey, na sua obra
“A Lua Vermelha” retrata este primeiro aspeto. A mulher vive uma linearidade até
à menarca, a primeira menstruação. A partir desse momento, o seu tempo deixa de
ser linear para passar a ser cíclico. Sendo cíclico, ele está sujeito a fases,
tal como a lua. Os diferentes estados – ou estágios – comportam experiências
diferentes, de expansão e contração, tendo o seu ponto mais expansivo na lua cheia e o seu ponto mais retrativo na lua nova.
Regressando à lâmina do
tarot, esta Lua o que nos pede é exatamente esse mergulho no feminino com tudo
o que lhe é associado: princípio passivo (ser recetor), nutrição (sobretudo
pessoal), inconsciente, sonho, ilusão, emoção, sentimento, reflexão e intuição. E serve tanto para mulheres como para homens.
Voltando ao mesmo autor, Didier Derlich afirma que esta “Lua” só é difícil quanto maior seja a nossa resistência em mergulhar no inconsciente.
Por outro lado, a lua também nos conecta com a nossa intuição, e que é a intuição que não o nosso guia interno, o mestre que reside em nós e que nos ajuda e auxilia ao longo do caminho quando escolhemos ouvi-lo? Neste sentido, também podemos vê-la como conselheira.
Por fim, esta lâmina está fortemente ligada ao elemento água, elemento que rege as nossas emoções e que eu, tradicionalmente, associo ao ponto cardeal oeste e à estação do Outono. No Outono há o despir das folhagens e, se compararmos o processo das árvores ao nosso próprio processo, verificamos que também nós ficamos despidos quando damos espaço de manobra às nossas emoções. Despidos do que é externo, daquilo que é mais evidente e manifestado. O tempo puxa-nos para a nossa caverna interna, para o resguardo, para o mergulho nas profundezas (expressão que utilizo tantas vezes porque me faz tanto sentido) e que antecedente o Inverno.
De certo modo, depois de 6 meses de energia masculina (Primavera: Ar e Verão: Fogo), entramos num semestre de energia feminina (Outono: Água e Inverno: Terra).
Esta complementaridade é importante e necessária e reflete a polaridade que existe em tudo o que está presente neste mundo.
Não tenhamos pois medo do escuro apenas porque não sabemos o que ele esconde. A bem da verdade até sabemos, apenas não de uma forma consciente. O Bicho-Papão apenas tem este nome enquanto não o enfrentarmos. Quase se dá a luta descobrimos, quase sempre, que nada é tão mau como parecia.
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