Ser mulher
Clarissa Pinkola Estés anotou no seu livro "Mulheres que Correm com os Lobos" que não entendia como uma mulher podia sentir orgulho em mostrar-se fria. (1) Fico feliz em saber que gradualmente as mulheres têm vindo a reconquistar o seu lugar por direito, mas receio que, na necessidade em provarem o seu próprio valor - quando não deviam de ter de o fazer - se esteja a perder a conexão com a sua essência feminina.
Vamos ser claros, para mim a mulher é aquilo que ela quiser ser, seja isso o que for, mas enterrar as emoções no fundo do poço, na minha humilde opinião, não cura feridas. Apenas nos leva a fazer de conta que elas não existem. Como se cura algo cuja existência nós não reconhecemos?
Lamentavelmente, já ouvi da boca de alguns homens a ideia de que uma mulher mais fria, que demonstra um pleno controlo das suas emoções, é uma mulher forte. Confundir frieza com força é um erro crasso. A esses só lhes posso responder, com imenso carinho, que não fazem a menor p**a ideia do que é uma mulher.
A mulher não precisa de se fazer de forte, porque ela já é em si mesma uma força da natureza. A mulher sente tudo intensamente e profundamente e continua de pé. A mulher é cíclica, está em constante renovação e mensalmente vive um processo de morte e renascimento.
Deixo excerto da referida obra para reflexão de quem quiser.
"A insensibilidade é o beijo da morte à criatividade, aos relacionamentos, à vida em si. Algumas mulheres comportam-se como se o facto de se mostrarem frias fosse uma grande proeza. Não é. É um gesto de fúria defensiva.
Em psicologia arquetípica ser frio é não ter sentimentos. (...) Tratando-se de um ser humano, estar congelado significa ficar deliberadamente insensível, especialmente para consigo mesmo, mas também, e por vezes com maior intensidade, para com os outros. Embora seja um mecanismo de autodefesa, é difícil para a psique-alma, porque a alma não reage à insensibilidade, mas sim ao aconchego. Uma atitude insensível apagará todo o ardor criador de uma mulher. Inibirá qualquer função criativa. (...) O gelo deve ser quebrado e a alma arrancada do frio." (1)
(1) Clarissa Pinkola Estés, "Mulheres que Correm com os Lobos", Pág. 219
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