2020
Hoje sinto-me bonita. Habitualmente é quando escolho a minha melhor roupa, arranjo o cabelo, maquilho-me e encho-me de esperança… Esperança! Pela milésima vez esperançosa!
Misturo-me na multidão e oiço palavras, palavras, troca de palavras, palavras que ainda que numa língua tão familiar, o meu cérebro deixa a dada altura de as processar. Apago[-me].
Se beber uns copos de vinho estou pronta para aguentar tudo, tudo o que dói, tudo o que mói. Por norma é nesses momentos em que já não me sinto bonita, mas já bebi o suficiente para não me importar com isso.
Relembro-me então que já estive aqui antes, milésimas de vezes antes... Já vivi isto antes… Já senti isto antes...
Já fui o faz de conta.
Já fui uma forma, uma representação.
Já fui o riso misturado com o choro e entre gargalhadas já gritei em surdina.
Mas hoje não. Hoje sinto-me bonita e não escolhi a minha melhor roupa. Não me enchi de esperança. O meu copo não tem vinho. Não me defino. Não me dou um nome. Não me debruço sobre os meus excessos nem as minhas carências. Não disfarço imperfeições, nem coloco sorrisos falsos. E hoje, enquanto vejo o meu reflexo no espelho não posso evitar esboçar um sorriso e exclamar: "Então eras tu que estiveste aí o tempo todo?!"
Este é o meu desejo para 2020: encontrar-me mais vezes.
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