Lídia
Durante muito tempo lamentei-me pela vida que tinha. Sentia-me presa à pessoa que mais odiava: eu mesma. Detestava tudo em mim. Os meus olhos que veem mal e me obrigavam a usar óculos, o meu cabelo incorrigível, o meu corpo imperfeito, a minha timidez que me calava quando devia falar, ou o péssimo sentido de oportunidade que me fazia falar quando devia estar calada, o meu leão pouco leão com uma faceta de caranguejo que insistia em viver o seu lado mais carente. Não havia ninguém que me tratasse pior do que eu mesma. Não entendia o meu propósito de vida. Não entendia o que andava cá a fazer. Tudo me parecia um castigo, uma punição. Perseguia algo que não sabia o que era e perdia-me numa dor que nem eu tinha a certeza se tinha estatuto de dor. Mendigava atenção e amor e apagava-me em cada entrega ao achar que qualquer coisa que eu tentasse aparentar ser era melhor do que mostrar quem eu era na realidade. Se eu não gostava de mim, como podiam os outros gostar? Mas se eu fosse o...