Sinto saudades mas não sinto saudades. Sinto saudades dos momentos em que me senti livre, das risadas, do convívio, das jantaradas, dos comes e bebes, das partilhas, das palavras. Mas não sinto saudades de tudo aquilo que não me permitia que eu fosse eu mesma. É curioso como, por vezes, necessitamos de nos ver privados de alguns bens, pessoas e situações - o que dávamos como adquirido - para percebermos de que, no meio da azáfama, já tínhamos perdido a nossa voz. Mas no silêncio ela é audível. Parece um sussurro de fora e leva algum tempo até percebermos que nos encontramos em diálogo sincero connosco próprios. Este tempo é difícil mas é uma oportunidade, para alguns talvez a derradeira, de nos vermos, ouvirmos e sentirmos com genuína atenção e gentileza o bater do nosso próprio coração. Sim, sinto saudades de algumas coisas mas não tenho saudade alguma de não ser eu.