A Caminhante

Evoluir é muitas vezes sofrer, chorar, amaldiçoar, ter acessos de fúria e apetecer partir tudo. Não me guio por uma religião mas por uma crença que me diz que cada um de nós é responsável pela vida que tem. Manter-me fiel a essa fé, é aceitar que sou responsável pelo que me faz sofrer, chorar, amaldiçoar, ter acessos de fúria e tudo o resto. E isso não é fácil. Não é fácil porque vai para além dos limites da nossa compreensão e, por isso, há momentos em que é mais fácil falar em recompensa e castigo como se estivesse apenas dependente de desígnios divinos. Acredito em Deus, não obstante. Não lhe peço ajuda para te tornar a vida mais fácil, mas ajuda para que eu seja menos complicada. Se as mentes e corações não fossem um emaranhado de dúvidas, ou como aquelas plantas murchas porque apanham pouco sol, conseguiríamos ver segundo uma perspectiva de cima, e não tão terrena, tão limitada. Enquanto estivermos a evoluir, iremos sofrer, chorar, amaldiçoar, te...

Já percorri estas mesmas estradas, cruzadas por olhares desconhecidos... eu, uma entre muitos, tão invisível sobretudo para mim mesma. Mas nada é assim agora. E encho-me de contentamento mesmo caminhando de pés descalços e mãos vazias. Sou o não querer. E nesse vazio de qualquer coisa, sinto-me maior do que alguma vez me senti. O que vale de facto a pena trago dentro do coração. E nunca mais estarei sozinha.